Falar de sexo no almoço? Não pode, aqui o sexo é banido da sociedade e só pode existir nos motéis das BRs. |
O conservadorismo sexual do goianiense não cansa de me surpreender de maneira negativa, em especial nos ambientes frequentados por membros da comunidade LGBT. Eu imaginava que o ambiente LGBT fosse um de respeito à individualidade e à liberdade sexual de cada pessoa – e não um de reprodução dos valores conservadores produzidos no seio do resto da sociedade, machista, misógina, homofóbica e racista, que nos divide em grupos e nos julga com base em uma de nossas muitas características pessoais. Ledo engano meu. Microcosmo que é da sociedade em geral, a comunidade LGBT reproduz os valores machistas desta entre seus membros. É comum ouvir gays julgando outros gays devido à quantidade de parceiros sexuais que estes últimos possuem. É ridículo, para não dizer contraditório, que membros de um grupo social que vive empunhando a bandeira da liberdade façam isso. Exigem respeito do resto da sociedade, mas se discriminam uns aos outros dentro da comunidade, num ato que daria orgulho a Jair Bolsonaro. Costumo repetir que desde que saí do armário passei a entender melhor o feminismo e simpatizar-me ainda mais pela causa.
Não gosto de me envolver com pessoas de Goiânia. Por outro lado, me dou muito bem com pessoas oriundas de estados litorâneos. Elas me seduzem facilmente – afinal, o sexo é natural para elas – e, quando percebo, estou fazendo com elas coisas que jamais me permitiria fazer com os caras daqui. Eu e minhas amigas chegamos ao consenso de que o homem goiano é machista e recatado ao mesmo tempo. Não sabe "chegar" e, quando "chega", exige o cumprimento de uma série de regras sobre o que se pode ou não fazer na cama (como o exemplo já dado do sexo no primeiro encontro) que fariam todo o sentido do mundo durante a época do Império, mas não no século XXI, onde existem preservativos, pílulas anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte – itens que, se Deus quiser, continuarão sendo distribuídos de graça pelo governo a despeito das intenções de Eduardo Cunha e seus asseclas, muitos dos quais são produtos do eleitor goiano. Goiás, terra da repressão sexual, enviou a Brasília o deputado autor do projeto de lei que, se aprovado, permitirá que psicólogos conduzam a terapia de "reorientação sexual" em seus pacientes.
A corte funcionou tão bem para os ingleses da Era Georgiana, por que não reproduzi-la no Brasil de 2015? |
Apesar da rápida neopentecostalização de Goiânia, não creio que a rígida (e hipócrita) moral religiosa predominante na cidade seja a única explicação para a repressão sexual de seus habitantes. Afinal de contas, a maioria das pessoas na liberal Nova York de Carrie Bradshaw pertencem a uma denominação religiosa e acreditam em Deus, sendo a religião inclusive tema de alguns episódios do seriado. Não sei exatamente qual é a correlação existente entre a maneira de lidar com a sexualidade humana e o desenvolvimento econômico de uma região, mas ela parece existir. Nas cidades mais ricas do que Goiânia – São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Brasília – a caretice sexual é bem menor. Seja qual for o motivo, o fato concreto é que tenho dificuldade de expressar minha sexualidade de maneira completa vivendo aqui. Às vezes me parece que todo mundo conhece todo mundo (ainda mais na comunidade LGBT) e é bem fácil de se ficar mal falado. Por outro lado, sinto que traio a mim mesmo quando me nego o direito a ser dono de minha sexualidade. Pois que falem. Não vivo sob a égide de regras que não criei.
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