Há cerca de um ano os israelenses foram às urnas para escolher os membros do 20° Knesset, o parlamento do Estado de Israel. A prioridade dos partidos árabes era clara: eleger um número grande o suficiente de deputados para impedir a formação de um novo governo pelo então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cujo partido, Likud, se opõe à coexistência pacífica com os palestinos. Assim sendo, os quatro partidos da esquerda árabe — Hadash, Lista Árabe Unida, Balad e Ta'al — decidiram colocar suas diferenças de lado e formaram a Lista Conjunta.
O resultado da união de esforços foi um recorde na participação eleitoral dos cidadãos árabe-israelenses. A Lista Conjunta obteve 446.583 votos (10,6% do total) e tornou-se a terceira maior agremiação do Knesset, com 13 deputados — dois a mais que os partidos árabes possuíam antes de forjarem a coligação. Apesar da disposição em se coligarem com a União Sionista, agremiação de centro-esquerda judaica, não conseguiram impedir a posse de Netanyahu para um novo mandato. O Likud obteve a maior parte dos votos e, assim sendo, teve preferência nas negociações para formar um novo governo, no que obteve êxito.
De qualquer forma, o sucesso da Lista Conjunta garantiu unidade e coesão nas demandas dos cidadãos árabes de Israel, os mais humilhados e oprimidos daquela sociedade. Mais espaço no parlamento significa maior visibilidade a essas pessoas. É isso que a esquerda brasileira deveria perceber no momento atual. A retirada de Dilma Rousseff do poder central significaria o aprofundamento dos cortes de gastos sociais. O economista oficial do golpe frio, Armínio Fraga, já afirmou que programas como Bolsa Família e ProUni "serão retirados da pior maneira".
A oposição de esquerda, mesmo que não lhe caiba fazer a defesa da agenda econômica do governo Dilma, deve lutar pela manutenção da agenda social, que garante a ampliação de direitos dos humilhados e oprimidos do Brasil. Defender a pauta do "que se vayan todos" só agrada à direita ultraliberal que deseja tirar Dilma porque nega a função social do Estado e deseja fazer com que o governo sirva apenas aos ricos que os financiam, como os Irmãos Koch ou os especuladores que vivem do pagamento dos juros da dívida pública. Essa esquerda trai a si mesmo e a seus eleitores.
Urge, à esquerda nacional, seguir os passos da esquerda árabe de Israel e perceber que, juntos, somos mais fortes na luta contra os opressores do povo. Já está mais do que claro que o propósito da Operação Lava Jato não é limpar o Brasil da corrupção; é limpar o país da política partidária. Isso ficou claro para mim quando os parceiros de Sérgio Moro no Jornal Nacional exibiram uma reportagem sobre a lista de recipientes de propina da Odebrecht e, ao invés de listar os maiores beneficiados, exibiram a lista dos partidos que teriam participado do esquema. Todos, menos PSTU e PCO, apareceram na tela da Globo.
A mídia vem sendo questionada por sua parcialidade nas denúncias contra o PT e reage como sempre tem reagido nesses casos: passa a afirmar que todos os partidos são corruptos. O PT seria apenas o mais corrupto deles. Entretanto, soa-me estranhíssimo que dois partidos nanicos e independentes — PCB e PSOL — receberiam propina. O PCB já negou esse "fato" em suas redes sociais, mas o estrago já foi feito. Milhões de pessoas viram o partido ser associado a siglas abjetas como o DEM e o PP, herdeiros do partido oficial da ditadura militar.
Quando o golpe frio se consolidar, ninguém vai ser perdoado, por mais crítico e independente que tenha sido do governo Dilma. Por isso, é hora de deixar as diferenças de lado, como os partidos da Lista Conjunta fizeram. Estamos num confronto e, na guerra, as regras para a política de alianças devem ser afrouxadas. Caso o contrário, perdemos. E a derrota do nosso lado, da esquerda, no momento político atual do Brasil, significa a derrota do tudo aquilo que o povo conquistou nos últimos 12 anos. É chegada a hora de nos posicionarmos, para o bem do povo brasileiro.
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