sábado, 23 de julho de 2016

Viver em Cristo é viver em amor

Texto escrito em 29 de junho de 2016.

Ontem me coloquei no lugar dos cinco rapazes mortos por homofobia durante a última semana no Rio de Janeiro. É um exercício doloroso a empatia. Principalmente quando a vítima poderia muito bem ser você mesmo. Não é possível que em pleno século XXI — e com os olhos do mundo voltados para o Rio por causa das Olimpíadas — pessoas continuem sendo assassinadas por serem quem elas são, por terem o código genético que possuem. O fato é que gay is the new black em termos de opressão. Agora que é crime culpabilizar os negros pela penosa vida que o sistema capitalista lhe impõe, o povão encontrou nos LGBTs um novo bode expiatório. Junto com os imigrantes, é claro. Esqueça sobre o pagamento dos juros da dívida pública que rouba o dinheiro de nossos impostos e não contribui em absolutamente nada para o crescimento da economia; há dois homens se beijando em público na televisão e é mais importante debater costumes morais do que a extorsão de governos promovida pelo sistema financeiro a nível mundial.

Dois meses antes, Bolsonaro se converteu do catolicismo ao
pentecostalismo. Deve estar mais à vontade na nova igreja.
As cabeças cariocas fracas e pouco instruídas funcionam como oficinas de diabos como Jair Bolsonaro e Silas Malafaia que, embora não tenham puxado o gatilho, deram a ordem para que puxassem. Essa seria a ordem de um Deus que não é mensageiro da paz e nem do amor, mas sim a representação do que há de pior na psique humana. Parte da culpa pela proliferação da intolerância é de quem sempre lutou contra ela. Ao priorizar mais o desenvolvimento econômico do que o social, os governos do Partido dos Trabalhadores acabaram produzindo uma legião de ingênuos úteis, que sabem tudo sobre o funcionamento de smartphones, carros e televisores e nada sobre o funcionamento da biologia ou de como deveria ser a vida em sociedade. Como minha mãe sempre diz, o poder não deixa vácuo. O vácuo na cultura e na educação foi ocupado por mercenários de almas, para quem seguir a lei judaica — de onde tiraram o famigerado "evangelho da prosperidade" — é mais importante do que ser um discípulo dos ensinamentos de Jesus Cristo.

É sintomático que Bolsonaro tenha saído da Igreja Católica romana cerca de dois meses antes do líder espiritual desta instituição milenar declarar que ela deve um pedido de desculpa aos homossexuais. A fé de Bolsonaro, assim como sua atuação parlamentar, é oportunista. Só tem serventia a ele enquanto ele puder utilizá-la para justificar sua visão torpe de mundo. Agora que não pode mais usar o Vaticano como justificativa para sua homofobia, este não lhe serve mais. Mesmo caminhando a passos mais lentos do que as igrejas protestantes tradicionais — a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil aceita fiéis homossexuais desde 1998  — a Igreja Católica evolui e pessoas como Bolsonaro e Malafaia são agentes anti-evolução social. A sobrevivência deles depende da manutenção do status quo. Num cenário em que todos recebam uma educação de qualidade, ninguém seria mais seduzido pelo discurso fácil deles de que os homossexuais e os haitianos são os culpados pela degradação da sociedade brasileira. Não é à toa que líderes evangélicos são entusiastas do "Escola sem partido".

Dá pra imaginar uma prostituta ungindo Malafaia?
Apesar do cenário desolador, não devemos esmorecer. Mesmo que caiam mil à nossa direita e outros mil à nossa esquerda devido ao ódio malafaiano, vamos triunfar. Porque nós sabemos o que é o amor. E a religião de Jesus não era o cristianismo, era o amor, sobretudo aos marginalizados pelo status quo de sua época. Se caminhasse entre nós, Cristo condenaria boa parte dos "cristãos" de nosso tempo e também seria condenado por eles. "Cristo" vem do grego e significa ungido, ungido que foi por uma mulher de moral duvidosa que o amava como ele a amava: incondicionalmente. Alguém imagina os principais líderes evangélicos do Brasil sendo ungidos por uma prostituta? O argentino Jorge Bergoglio — membro da Companhia de Jesus, que promoveu a evolução da Igreja com o Concílio do Vaticano, e o primeiro papa não-europeu em um milênio — com certeza seria. O que ele tenta resgatar é justamente o amor aos oprimidos presente no Evangelho. Pois viver em Cristo é viver em amor, independente da forma como ele se manifesta.

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