A maior parte das vítimas do COVID-19 no Brasil terá cor de pele e bairro de origem bem definidos. Serão negros e moradores de comunidades carentes. Isso ocorre devido à forma com que a sociedade brasileira foi construída historicamente. Durante mais de 300 anos de escravidão, os negros sequer eram considerados seres humanos. E, depois da abolição, tiveram o direito à moradia e ao trabalho negados. Motivo este pelo qual a maior parte da população das favelas é composta pelas pessoas de pele negra.
Segundo o estudo Mapa da Desigualdade, feito pela Rede Nossa São Paulo em 2018, um morador do bairro Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, vive em média 23 anos menos do que um habitante dos Jardins, bairro de classe alta do mesmo município. E o Estado, que deveria atuar no sentido de atenuar essa diferença, age muitas vezes no sentido de agravá-la. Ao aprovar a reforma trabalhista, por exemplo, o Estado retirou duas dezenas de direitos que os trabalhadores haviam conquistado ao longo da história. Já a Reforma da Previdência aumentou o tempo que os brasileiros precisam trabalhar com carteira assinada para garantirem sua aposentadoria no final da vida.
Isso quando os moradores das comunidades carentes conseguem trabalho com carteira assinada, porque os diversos anos de crescimento econômico limitado do país tem provocado uma explosão da informalidade, o que não lhes garante nenhum dos já escassos direitos previstos pela legislação trabalhista brasileira. Some-se a isso a precariedade do ensino e da saúde pública, a falta de opções de cultura e lazer e até mesmo o acesso limitado ao saneamento básico e temos a receita perfeita para a abreviação da vida dos moradores das inúmeras favelas do país.
Segundo o estudo Mapa da Desigualdade, feito pela Rede Nossa São Paulo em 2018, um morador do bairro Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, vive em média 23 anos menos do que um habitante dos Jardins, bairro de classe alta do mesmo município. E o Estado, que deveria atuar no sentido de atenuar essa diferença, age muitas vezes no sentido de agravá-la. Ao aprovar a reforma trabalhista, por exemplo, o Estado retirou duas dezenas de direitos que os trabalhadores haviam conquistado ao longo da história. Já a Reforma da Previdência aumentou o tempo que os brasileiros precisam trabalhar com carteira assinada para garantirem sua aposentadoria no final da vida.
Isso quando os moradores das comunidades carentes conseguem trabalho com carteira assinada, porque os diversos anos de crescimento econômico limitado do país tem provocado uma explosão da informalidade, o que não lhes garante nenhum dos já escassos direitos previstos pela legislação trabalhista brasileira. Some-se a isso a precariedade do ensino e da saúde pública, a falta de opções de cultura e lazer e até mesmo o acesso limitado ao saneamento básico e temos a receita perfeita para a abreviação da vida dos moradores das inúmeras favelas do país.
Abro um parênteses aqui para citar também a violência policial. O mesmo Estado que não se faz presente para garantir uma vida digna para as populações das comunidades carentes, se faz muito presente na vida dessas pessoas através de seu braço armado para reprimi-las de maneira brutal e garantir a "ordem" prevista em nossa bandeira — ou seja, que a atual estrutura social do país, estabelecida ainda durante o período da colonização, permaneça imutável para sempre.
É criminoso que em meio à maior crise sanitária dos últimos cem anos, lugares como Paraisópolis lutem com a falta de água encanada a noite e que mais de 140 comunidades do Rio de Janeiro estejam sem acesso a água potável como um todo. (Esgoto, a maioria desses lugares nunca nem teve). Não bastasse a incapacidade do Estado em garantir que boa parte de sua população pratique o ato mais básico quem contém a infecção pelo Coronavírus — lavar as mãos —, os moradores das comunidades carentes do Brasil sequer podem se higienizar de outra forma, já que também são os primeiros a sentirem o impacto da opressão econômica. O preço do álcool em gel aumentou de maneira abusiva e o produto já sumiu das prateleiras até dos supermercados de bairros de classe média.
Além disso, existe o problema das moradias precárias e praticamente contíguas umas às outras. Há casos de 11 pessoas que moram juntas na mesma casa, o que impossibilita que o isolamento social de um metro e meio entre as pessoas ocorra de fato. Se apenas uma das pessoas for contaminada, todas as outras serão e isso pode dizimar famílias inteiras. Isso sem mencionar que muitas dessas pessoas vivem em invasões, que podem ser desocupadas pelas já mencionadas forças repressivas do estado a qualquer momento, ou correm o risco de serem despejadas de suas moradias devido à falta de pagamento de aluguel.
Uma alternativa
Uma alternativa
O Estado tem que ser responsabilizado pela situação à qual relega sua população mais pobre. É criminoso que ele não garanta a vida de pelo menos 14 milhões de habitantes e a pandemia do COVID-19 desnudou seus crimes contra essa parcela da população. Infelizmente, essa parece ser uma política de Estado desde que o Brasil é Brasil. Colônia, Império, República, ditadura, democracia, não importa o sistema ou a forma de governo, nada parece mudar para as populações marginalizadas desse país. É totalmente compreensível o sentimento de impotência dessa população.
Mas nós, que temos algumas condições, não podemos ficar indiferentes diante da omissão de um Estado que cada vez mais assume seu caráter criminoso e genocida. Nós podemos e devemos fazer algo!
A Central Única das Favelas (CUFA), entidade não-governamental criada há mais de 20 anos e presente em todo o país, está arrecadando doações para o projeto "Mães da Favela", que pretende oferecer cartões de crédito com o valor de R$ 240 — a ser liberado em duas parcelas de R$ 120 — para as moradoras de comunidades carentes de todo o Brasil para que elas e seus filhos possam sobreviver durante esse período que, além de todos os problemas já citados acima, acrescentou-lhes ainda o desafio de permanecer sem renda durante a quarentena.
A fome não espera. As urgências dos moradores das favelas são imediatas e não podem esperar que o Estado, comandado de maneira mesquinha pelo atual governo, libere o auxílio emergencial — que, pasmem, em muitos casos está sendo sequestrado pela própria Caixa para quitar dívidas dos correntistas com o banco. Como diz a apresentadora Eliana em vídeo publicado no perfil da CUFA nas redes sociais, enquanto nós pensamos nos próximos meses, as mães da favela estão pensando nos próximos dias e no que elas terão para oferecer a seus filhos.
A Central Única das Favelas (CUFA), entidade não-governamental criada há mais de 20 anos e presente em todo o país, está arrecadando doações para o projeto "Mães da Favela", que pretende oferecer cartões de crédito com o valor de R$ 240 — a ser liberado em duas parcelas de R$ 120 — para as moradoras de comunidades carentes de todo o Brasil para que elas e seus filhos possam sobreviver durante esse período que, além de todos os problemas já citados acima, acrescentou-lhes ainda o desafio de permanecer sem renda durante a quarentena.
A fome não espera. As urgências dos moradores das favelas são imediatas e não podem esperar que o Estado, comandado de maneira mesquinha pelo atual governo, libere o auxílio emergencial — que, pasmem, em muitos casos está sendo sequestrado pela própria Caixa para quitar dívidas dos correntistas com o banco. Como diz a apresentadora Eliana em vídeo publicado no perfil da CUFA nas redes sociais, enquanto nós pensamos nos próximos meses, as mães da favela estão pensando nos próximos dias e no que elas terão para oferecer a seus filhos.
É possível ajudar acessando a página do projeto, que aceita doações de valores a partir de R$ 30 e aceita pagamentos através de cartão de crédito, boleto bancário e PicPay. Graças às comodidades que temos atualmente em nossas mãos, não é necessário nem mesmo sair de casa para ajudarmos.
Viver em sociedade também significa ajudar os membros dessa sociedade que precisam. Num mundo ideal, essa ajuda viria do Estado, que existe para organizar a sociedade. Mas o Estado brasileiro existe para garantir os privilégios da elite. Então, cabe a nós mesmos, exercermos esse papel. Como bem diz o astronauta Scott Kelly, que escreveu um artigo no New York Times com dicas sobre como sobreviver à quarentena, "todas as pessoas estão inevitavelmente interconectadas, e quanto mais pudermos nos unir para resolver nossos problemas, melhor nos sairemos". Ele cita, inclusive, os benefícios à saúde para quem ajuda os outros — já comprovados em pesquisa — e que pode ajudar a prevenir contra o COVID-19.
Creio que seremos julgados no futuro, enquanto sociedade, pela forma como cuidamos uns dos outros e, principalmente, dos mais vulneráveis. Os tempos atuais são desafiadores e eu entendo o sentimento de impotência, mas sempre existem pessoas que estão mais impotentes do que nós. A tecnologia existente hoje nos permite ajudar quem precisa sem sequer sair de casa. É um desperdício não usar os recursos à nossa disposição, tanto tecnológicos quanto financeiros, para não tentar criar um impacto positivo nas vidas de pessoas que foram abandonadas pelo Estado, ainda mais agora que elas mais precisam de nós.
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