quinta-feira, 30 de julho de 2015

Teste de fé

Há algumas semanas, como de costume fui na missa com a minha mãe na Igreja Matriz de Campinas. Um pouco antes da Páscoa, redescobri minha fé em Jesus Cristo, o rabino judeu revolucionário de Israel do século I, através de um texto de Frank Schaeffer publicado no AlterNet. Desde então eu estava frequentando à missa duas vezes por semana. Mas, como de costume, nunca me sentia verdadeiramente em casa num templo da Igreja Católica. Sentia-me observado, julgado e vigiado. Eu frequentar à missa era mais uma questão de tradição do que de escolha pessoal.

Paróquia São Felipe.
No final de junho, senti-me desconvidado a continuar participando daquela comunidade dita cristã. Durante seu sermão, o padre começou a fazer campanha contra a "ideologia de gênero" nas escolas e começou a atacar o feminismo e a homo-transsexualidade. Pode-se pensar o que quiser do feminismo, mas a sexualidade humana não é uma escolha. Não nascemos militantes; nascemos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. O interessante é que, poucos minutos antes, ele falava da importância do perdão para a fé cristã. Não pratique o que se prega parece ser a ordem do dia no Vaticano, cujo líder, embora melhor do que o anterior, tem a coragem de, ao mesmo tempo, denunciar o aumento da pobreza e dizer a filipinos pobres que não usem contracepção. Não consegui continuar frequentando aquele templo farisaico e hipócrita, que prega o amor e, cinco minutos depois, a exclusão social de grupos já historicamente oprimidos.

Fui atrás de outras alternativas. De início descartei o evangelicalismo (eu sei que, embora não deem ibope, existem igrejas evangélicas progressistas, mas o estilo de culto delas não me agrada muito) e descartei também as vertentes protestantes que rejeitam a veneração à Virgem Maria e aos apóstolos. Sobrou-me, então, o luteranismo e o anglicanismo. Desses, pareceu-me que o anglicanismo (ou episcopalismo, como é chamado nos States) era o mais aberto não só à diversidade humana mas como às causas que eu defendo. E em todo o mundo. Na Inglaterra, por exemplo, os anglo-católicos foram, em boa parte, responsáveis pelo sucesso eleitoral do então socialista Partido Trabalhista. Mandei um e-mail à sacerdotisa da paróquia goianiense e ela me convidou ao próximo culto que realizaria.

O culto em questão foi realizado no último dia 12. É muito semelhante à missa católica, só que sem formalismos desnecessários. No momento em que se deseja a paz de Cristo aos demais fiéis, por exemplo, literalmente todo mundo vem te abraçar. Inclusive o bispo diocesano, que estava em Goiânia por ocasião da comemoração dos trinta anos da ordenação de mulheres na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Em diversos momentos a palavra é aberta à comunidade. Havia, inclusive, uma pastora luterana que foi proferir algumas palavras sobre a importância de se incluir as mulheres na estrutura eclesiástica das comunidades cristãs. Os sacerdotes católicos romanos, por outro lado, adotam postura de autoridade; são frios e distantes dos fiéis. Jamais abrem a palavra para a comunidade, em especial líderes de outras religiões.

No final do culto, fui convidado pela reverenda a almoçar com os membros da paróquia. Nessa hora, ela fez questão de me reafirmar que a comunidade dela é aberta para todos. Inclusive chamou-me bastante a atenção o número de reverendas presentes no culto. Jamais imaginaria que veria uma mulher proferir um sermão. Ao reorientar-me para uma comunidade com seu verdadeiro espírito, Jesus me mostrou que a Igreja Católica pode até ter me abandonado, mas ele não. Percebo que tudo não se passou de um teste de fé. E, dessa vez, descontei minha insatisfação em quem realmente merece e não em Cristo, que sempre esteve do meu lado me protegendo, acolhendo e amando por quem eu sou. Não carrego mais uma cruz por ser quem sou. Rezo sem ser atacado. Encontrei meu lar.

Um comentário:

  1. Encontrei seu blog hoje e me chamou a atenção sua combinação de socialista e cristão. Interessante notar que os cristãos conservadores fazem oposição a essa combinação, acredito por não conhecerem de fato o que significa ser socialista. Lembrei de Rosa Luxemburgo em seu texto "O socialismo e as igrejas".
    Veja, no que concerne a mudança de igreja, acho pertinente procurar um lugar em que nos sentimos verdadeiramente acolhidos, contudo, acredito que em todas as instituições têm partes (pessoas) que vão na contramão do evangelho de amor do mestre Jesus. Até as mais abertas (vide espiritismo) experimentam um certo conservadorismo.

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