quinta-feira, 30 de julho de 2015

Os cristãos conservadores teriam odiado Jesus

Ao mesmo tempo em que dizem professar Sua palavra, os fundamentalistas estão se esquecendo da mensagem mais importante de Jesus



Jesus jamais poderia ser um pastor de uma igreja evangélica e tampouco um bispo da Igreja Católica. Os evangélicos e católicos conservadores são bem sucedidos em distinguir a "verdade" deles e os erros dos demais. Jesus, por outro lado, detonou uma bomba-relógio de empatia que extingue essa diferença.

A bomba-relógio de empatia de Jesus explode toda vez que um ex-evangélico coloca o amor acima do que a Bíblia diz. Ela explode toda vez que o Papa Francismo faz da inclusão o seu dogma. Ela explode sempre que um casal gay é acolhido numa igreja. A bomba-relógio de Jesus explode sempre que os ateus seguem mais os passos Dele do que os cristãos.

Vejam só: A Dinamarca sem Deus oferece quatro semanas de licença-maternidade antes do parto e mais quatorze após. Os pais de recém-nascidos são acompanhados por uma enfermeira pediátrica, que lhes visita em casa. No Sul dos EUA, "pró-vida" e "da família", líderes políticos conservadores cortam programas designados para ajudar as mulheres e seus filhos enquanto criam uma mitologia justificadora sobre "ensinar a pescar" ao invés de "dar o peixe".

Na "América temente a Deus", os pobres são os "parasitas" e não mais os "desafortunados", e muitos evangélicos conservadores tomam o lado dos fariseus da atualidade, atacando os pobres em nome da Bíblia.

Jesus não toleraria os absurdos proclamados em seu nome.

Então quem está seguindo Jesus?

Confrontados pelo culto bíblico chamado evangelicalismo, temos uma escolha: seguir Jesus ou seguir o culto a um livro. Se Jesus é quem os evangélicos e os católicos afirmam que Ele é, então a escolha é clara. Precisamos ler o livro - inclusive o Novo Testamento - como Ele leu. E Jesus não gostava da "Bíblia" de Seu tempo. 

Confrontados pelos bispos que protegem os dogmas e a tradição contra a adoção, pelo Papa Francisco, da empatia pelo "outro" temos uma escolha: seguir Jesus ou proteger a instituição.

Toda vez que Jesus mencionava o Seu equivalente da tradição bíblica, a Torá, ele dizia algo como "as escrituras dizem isso, mas eu digo...". Jesus enfraqueceu as escrituras e as tradições religiosas a favor da empatia. Toda vez que Jesus enfraquecia as escrituras era para ficar do lado de quem sofria. Toda vez que uma ex-evangélica se torna ateia para desenvolver sua empatia, ela se aproxima de Jesus. Toda vez que o Papa Francisco fica do lado daqueles que a Igreja oprime, ele se aproxima de Jesus. Toda vez que um católico conservador tenta impedir o Papa de trazer mudanças para a Igreja, ele se aproxima daqueles que mataram Jesus.

Um leproso se aproximou de Jesus e disse "Senhor, se puder, me purifique". Se Jesus tivesse seguido o judaísmo tradicional, teria dito "Cure-se" e teria virado as costas. Ao invés disso, ele ergueu a mão e tocou no leproso, dizendo "Purifique-se", mesmo estando em desacordo com as regras do Levítico. Dois capítulos ensinam que qualquer um que tocar numa pessoa com lepra estará contaminado.

Seguindo as noções dos evangélicos e católicos fundamentalistas, Jesus era um humanista quebrador de regras que não foi salvo. Um bispo conservador teria Lhe negado os sacramentos. A revista "Christian Today" teria feito uma reportagem contra Ele, pedido Sua excomunhão, Seu banimento e rotularia-O de "traidor do cristianismo".

A mensagem de vida de Jesus é de uma intervenção e da aceitação da empatia. Considerem essa história do livro de Mateus: "Uma mulher que padecia de hemorragias havia doze anos aproximou-se por trás e tocou na franja de sua veste. Ela dizia consigo: "Se eu conseguir somente tocar em sua veste, serei." Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: "Coragem, filha. A tua fé te salvou." E desde aquela hora, a mulher ficou salva."

Jesus reconheceu uma mulher sangrando tocando-O como um sinal de fé. Ao cumprimentá-la, ao invés de repreendê-la, Jesus ignorou mais uma de Suas escrituras: "Quando uma mulher é atingida por uma hemorragia durante vários dias fora do seu período [menstruação], ou a hemorragia se prolongar além do seu período, sua impureza dura enquanto durar a hemorragia... Toda cama em que ela se deitar é como a cama do seu período; e todo objeto em que ela se sentar é impuro... Todo aquele que os tocar torna-se impuro" (Levítico 15:25).

As atitudes de Jesus, bizarras para o século I, foi além de acariciar leprosos e aceitar o toque de uma mulher sangrando. O acolhimento de uma mulher de uma tribo inimiga numa cultura onde o pertencimento tribal era primordial irritou tanto seus seguidores quanto seus inimigos. Suas atitudes para o "outro" eram tão incompreensíveis como se ele tivesse proferido "E=mc2 é a equação da equivalência entre massa e energia". Até a mulher samaritana no poço sabia que suas ações eram chocantes. Quando Jesus conversou com ela, ela disse: "Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?" (João 4:19).

Jesus respondeu atacando a preeminência da religião, da tradição, dos dogma e das identidades de grupo, oferecendo uma maneira inteiramente nova de olhar para a espiritualidade, enfatizando a superioridade da dignidade humana acima da nação, do Estado, do sexo ou da religião:

"Mulher," Jesus respondeu: "Acredita-me, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém tu vais adorar o Pai. Vós samaritanos adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; tais são, com efeito, os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e os seus adoradores o devem adorar em espírito e em verdade" (João 4: 19-24).

"Adorar em espírito e em verdade" não é escritural, sequer a "salvação" segue as ideias corretas da tradição. Imagina-se que as pessoas que chamam Jesus de "Filho de Deus" também rejeitariam a veneração do livro em que ele está preso e o dogma da Igreja que o crucifica de novo e de novo toda vez que um homem gay ou um casal divorciado não pode receber os sacramentos.

Os evangélicos lutam para enquadrar Jesus num livro, e não o contrário. E os bispos conservadores têm se aliado com a ala dos neoconservadores americanos em sua Igreja não contra o justo Papa Francisco, mas sim contra a emancipação da lógica da bomba-relógio de empatia de Jesus. Se Jesus não é a "lente" com a qual os evangélicos e católicos leem a Bíblia e suas tradições, então apesar do que eles digam, eles não acreditam verdadeiramente que Jesus é o filho de Deus.

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