Ao mesmo tempo em que dizem professar Sua palavra, os fundamentalistas estão se esquecendo da mensagem mais importante de Jesus
Jesus jamais poderia ser um pastor de uma igreja evangélica e tampouco um bispo da Igreja Católica. Os evangélicos e católicos conservadores são bem sucedidos em distinguir a "verdade" deles e os erros dos demais. Jesus, por outro lado, detonou uma bomba-relógio de empatia que extingue essa diferença.
A bomba-relógio de empatia de Jesus explode toda vez que um ex-evangélico coloca o amor acima do que a Bíblia diz. Ela explode toda vez que o Papa Francismo faz da inclusão o seu dogma. Ela explode sempre que um casal gay é acolhido numa igreja. A bomba-relógio de Jesus explode sempre que os ateus seguem mais os passos Dele do que os cristãos.
Vejam só: A Dinamarca sem Deus oferece quatro semanas de licença-maternidade antes do parto e mais quatorze após. Os pais de recém-nascidos são acompanhados por uma enfermeira pediátrica, que lhes visita em casa. No Sul dos EUA, "pró-vida" e "da família", líderes políticos conservadores cortam programas designados para ajudar as mulheres e seus filhos enquanto criam uma mitologia justificadora sobre "ensinar a pescar" ao invés de "dar o peixe".
Na "América temente a Deus", os pobres são os "parasitas" e não mais os "desafortunados", e muitos evangélicos conservadores tomam o lado dos fariseus da atualidade, atacando os pobres em nome da Bíblia.
Jesus não toleraria os absurdos proclamados em seu nome. |
Então quem está seguindo Jesus?
Confrontados pelo culto bíblico chamado evangelicalismo, temos uma escolha: seguir Jesus ou seguir o culto a um livro. Se Jesus é quem os evangélicos e os católicos afirmam que Ele é, então a escolha é clara. Precisamos ler o livro - inclusive o Novo Testamento - como Ele leu. E Jesus não gostava da "Bíblia" de Seu tempo.
Confrontados pelos bispos que protegem os dogmas e a tradição contra a adoção, pelo Papa Francisco, da empatia pelo "outro" temos uma escolha: seguir Jesus ou proteger a instituição.
Toda vez que Jesus mencionava o Seu equivalente da tradição bíblica, a Torá, ele dizia algo como "as escrituras dizem isso, mas eu digo...". Jesus enfraqueceu as escrituras e as tradições religiosas a favor da empatia. Toda vez que Jesus enfraquecia as escrituras era para ficar do lado de quem sofria. Toda vez que uma ex-evangélica se torna ateia para desenvolver sua empatia, ela se aproxima de Jesus. Toda vez que o Papa Francisco fica do lado daqueles que a Igreja oprime, ele se aproxima de Jesus. Toda vez que um católico conservador tenta impedir o Papa de trazer mudanças para a Igreja, ele se aproxima daqueles que mataram Jesus.
Um leproso se aproximou de Jesus e disse "Senhor, se puder, me purifique". Se Jesus tivesse seguido o judaísmo tradicional, teria dito "Cure-se" e teria virado as costas. Ao invés disso, ele ergueu a mão e tocou no leproso, dizendo "Purifique-se", mesmo estando em desacordo com as regras do Levítico. Dois capítulos ensinam que qualquer um que tocar numa pessoa com lepra estará contaminado.
Seguindo as noções dos evangélicos e católicos fundamentalistas, Jesus era um humanista quebrador de regras que não foi salvo. Um bispo conservador teria Lhe negado os sacramentos. A revista "Christian Today" teria feito uma reportagem contra Ele, pedido Sua excomunhão, Seu banimento e rotularia-O de "traidor do cristianismo".
A mensagem de vida de Jesus é de uma intervenção e da aceitação da empatia. Considerem essa história do livro de Mateus: "Uma mulher que padecia de hemorragias havia doze anos aproximou-se por trás e tocou na franja de sua veste. Ela dizia consigo: "Se eu conseguir somente tocar em sua veste, serei." Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: "Coragem, filha. A tua fé te salvou." E desde aquela hora, a mulher ficou salva."
Jesus reconheceu uma mulher sangrando tocando-O como um sinal de fé. Ao cumprimentá-la, ao invés de repreendê-la, Jesus ignorou mais uma de Suas escrituras: "Quando uma mulher é atingida por uma hemorragia durante vários dias fora do seu período [menstruação], ou a hemorragia se prolongar além do seu período, sua impureza dura enquanto durar a hemorragia... Toda cama em que ela se deitar é como a cama do seu período; e todo objeto em que ela se sentar é impuro... Todo aquele que os tocar torna-se impuro" (Levítico 15:25).
As atitudes de Jesus, bizarras para o século I, foi além de acariciar leprosos e aceitar o toque de uma mulher sangrando. O acolhimento de uma mulher de uma tribo inimiga numa cultura onde o pertencimento tribal era primordial irritou tanto seus seguidores quanto seus inimigos. Suas atitudes para o "outro" eram tão incompreensíveis como se ele tivesse proferido "E=mc2 é a equação da equivalência entre massa e energia". Até a mulher samaritana no poço sabia que suas ações eram chocantes. Quando Jesus conversou com ela, ela disse: "Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?" (João 4:19).
Jesus respondeu atacando a preeminência da religião, da tradição, dos dogma e das identidades de grupo, oferecendo uma maneira inteiramente nova de olhar para a espiritualidade, enfatizando a superioridade da dignidade humana acima da nação, do Estado, do sexo ou da religião:
"Mulher," Jesus respondeu: "Acredita-me, vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém tu vais adorar o Pai. Vós samaritanos adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; tais são, com efeito, os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e os seus adoradores o devem adorar em espírito e em verdade" (João 4: 19-24).
"Adorar em espírito e em verdade" não é escritural, sequer a "salvação" segue as ideias corretas da tradição. Imagina-se que as pessoas que chamam Jesus de "Filho de Deus" também rejeitariam a veneração do livro em que ele está preso e o dogma da Igreja que o crucifica de novo e de novo toda vez que um homem gay ou um casal divorciado não pode receber os sacramentos.
Os evangélicos lutam para enquadrar Jesus num livro, e não o contrário. E os bispos conservadores têm se aliado com a ala dos neoconservadores americanos em sua Igreja não contra o justo Papa Francisco, mas sim contra a emancipação da lógica da bomba-relógio de empatia de Jesus. Se Jesus não é a "lente" com a qual os evangélicos e católicos leem a Bíblia e suas tradições, então apesar do que eles digam, eles não acreditam verdadeiramente que Jesus é o filho de Deus.
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