quarta-feira, 11 de maio de 2016

Tentativas de afastar a presidente do Brasil são sexistas


Os ataques sexistas à presidenta Dilma Rousseff começaram durante os protestos antigovernamentais de 2013. Foi a primeira vez em que vi pessoas atacando Dilma por causa de sua condição de mulher. Mas eram protestos esparsos. Só mais recentemente é que os ataques sexistas se tornaram mais orquestrados.

Durante a Copa do Mundo de 2014, no jogo de abertura, sempre que Dilma aparecia no telão, os torcedores brasileiros cantavam "Ei, Dilma, vai tomar no c*" (Não me orgulho em repetir isso, mas as pessoas precisam saber).

Ano passado, os manifestantes anti-Dilma fizeram um adesivo para colocar no buraco de gasolina de seus carros. Ele retratava Dilma com as pernas abertas de forma que seu órgão sexual estava posicionado onde o bocal está. Assim sendo, toda vez que uma pessoa com este adesivo colocava gasolina em seu carro, Dilma seria simbolicamente estuprada.

A "querida" é a chefe das Forças Armadas e está em posição
hierárquica superior à dos deputados.
Mais recentemente, a revista de notícias Istoé fez uma capa sobre as "explosões nervosas de Dilma" — caso clássico de associar uma postura profissional de uma mulher a uma condição mental histérica. Cristina Kirchner, que está passando por seu próprio inferno pessoal na Argentina, usou a capa da revista como exemplo de como a mídia tem se baseado no sexismo para criticar tanto ela quanto Dilma.

Durante a votação do impeachment, deputados seguraram cartazes dizendo "Tchau, querida". "Querida" é a comandante-chefe do Brasil, alguém que é hierarquicamente superior a eles.

Veja, a maior revista de notícias, fez um perfil de Marcela Temer, a esposa bem mais nova do principal opositor de Dilma, Michel Temer, e a elogiou por ser "bela, recatada e do lar". Tudo aquilo que Dilma não é.

Punida por ser mulher

Tenho a impressão de que Dilma não teria sido tão punida por seus erros se ela fosse um homem. Incomoda aos deputados e demais homens ver uma mulher sentada numa cadeira que era um privilégio de homens.

Dilma fala como um homem, age como um homem e não se coloca em seu devido lugar — o que a arquetípica Marcela faz. Ela deu um "mau exemplo" para as mulheres brasileiras ao sugerir que as mulheres são capazes de gerenciar um país.

É interessante notar que 40 por cento das deputadas votaram contra o impeachment, ao passo em que mais de 70 por cento dos deputados votaram a favor. Mas apenas 8 por cento dos deputados são mulheres, embora as mulheres representam 60 por cento do eleitorado.

Se o Brasil tivesse uma representação de gênero mais equânime no Congresso, talvez Dilma não teria sido afastada em primeiro lugar, o que prova que este impeachment também possui uma conotação sexista que muitas pessoas — incluindo as próprias mulheres — parecem não perceber.

Atualização (12/05/2016 às 15:18): Consumada a destituição de Dilma, minhas previsões de que se tratava de um golpe sexista contra a primeira presidenta do Brasil infelizmente confirmaram-se. O governo Temer será o primeiro desde 1979 a não contar com ministra alguma, para a decepção até mesmo de mulheres de direita como Míriam Leitão.

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