Ontem os bispos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) lançaram uma nota onde, mais uma vez, rechaçam o golpe frio orquestrado pelas forças políticas mais reacionárias e corruptas do país e reafirmam sua defesa do devido processo legal. Já no final da manifestação pela democracia aqui em Goiânia fui informado que dom Francisco de Assis da Silva, que atualmente lidera a igreja no Brasil, não só compareceu ao ato na Praça da Sé em São Paulo como ainda fez um discurso contra o golpe.
Antes de conhecer a IEAB jamais imaginei que a experiência religiosa pudesse ser remotamente libertária. No entanto, agora sei que existe, no amplo mar das igrejas cristãs do Brasil, pelo menos uma que abraça o século XXI e seus desafios. Ainda bem que conheci a IEAB! Agora faço parte de uma igreja que não tem medo de descer de cima do muro e se posicionar perante os desafios da realidade, escolhendo o lado que mais se assemelha à mensagem de Cristo.
Tenho muito orgulho de pertencer a uma comunidade religiosa cujos líderes compreendem que Jesus foi um homem a frente de seu tempo e que veio até nós para romper com a tradição, que imobilizava a implementação da experiência divina. Achava que eu era o único que pensava assim. Me sentia como um alienígena durante as missas, pois parecia-me que, para os padres — em especial os que pregam em comunidades de classe média —, só importava a observação dos dogmas.
Não me sinto mais esquisito desde que comecei a frequentar a IEAB. Minha igreja e eu caminhamos na mesma direção: para frente, para um futuro no qual homens e mulheres são iguais, homo e heterossexuais têm os mesmos direitos, a natureza é vista como uma dádiva divina e não como um negócio e todos os brasileiros são respeitados independente de seus rendimentos. Não caminhamos para trás, para um passado no qual brasileiros morriam de fome por falta de assistência do Estado.
Como afirma a nota dos bispos, a igreja não tem envolvimento direto com partidos, mas defende "conquistas sociais e econômicas que reduziram vergonhosos índices de miséria extrema e possibilitaram acesso à moradia, educação e saúde a milhões de pessoas totalmente excluídas destes direitos inalienáveis da pessoa humana". Inalienáveis e missionários. Como é bom poder contar também com a minha igreja na luta contra a normatização das injustiças sociais no Brasil.
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