Uma linha de argumentação sendo colocada a favor da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, enquanto ela luta contra o impeachment é que ela é vítima da seletividade, uma vez que as mesmas questões não estão sendo levantadas sobre seus perseguidores políticos amplamente corruptos — tal raciocínio é tão certo quanto errado. É errado porque, de várias formas, governos que defendem ideais progressistas e de esquerda devem ter padrões éticos mais elevados do que aqueles que abraçam descaradamente o capitalismo selvagem, em especial no que diz respeito à má alocação de recursos públicos — mesmo assim, tais críticos também estão certos, porque no fim das contas ainda estamos discutindo sobre a seletividade.
Autoridades que roubam do povo devem de fato ser presas se julgadas com todas as garantias legais, mas a simplicidade básica deste princípio é enlameada por juízes do establishment e pela mídia de direita, que contradizem a sinceridade republicana em cada etapa do processo que cobrem — com a magnitude que dão a eventos menores, com seus vazamentos intencionais, etc. Saindo um pouco do exemplo brasileiro, tomemos um episódio local — o caso Hotesur evolvendo hotéis patagonianos ligados à família Kirchner. Se julgado conforme a acusação, este caso expõe uma transferência sistemática de recursos públicos para contas em bancos privados — isto é extremamente sério e deve ir a julgamento. Mas não sob um juiz como Claudio Bonadío, com um passado obscuro e que invade sem o devido mandato e joga as garantias legais no lixo. Tampouco o processo permanece totalmente limpo se, enquanto o procedimento jurídico está sendo abusado, a imprensa silencia-se sobre escândalos igualmente graves.
Contudo, por mais válidos que sejam, nenhum dos argumentos acima são suficientes para aqueles que defendem governos progressista, uma vez que seus líderes estão sendo acusados de corrupção e há todas as chances de que as acusações sejam válidas em pelo menos alguns casos. Tais defensores podem sempre choramingar contra o golpismo, que muitas vezes pode ser verdadeiro (como no caso do Brasil), mas a única solução real é garantir que nenhum líder roube para começo de conversa. Isto, por sua vez, pode implicar numa certa mudança estrutural nos movimentos progressistas, de cima para baixo e de cima para baixo — em vez de líderes carismáticos e onipotentes dando nome aos movimentos insistindo que os fins justificam os meios, militantes lúcidos devem reivindicar o controle para garantir que a riqueza não seja extraviada antes que possa ser redistribuída. E se puderem fazê-lo antes de O Globo e Bonadío começarem a ditar as regras, tanto melhor.
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