quarta-feira, 2 de março de 2016

O que quero dizer com 'Eu tenho ansiedade'

Há alguns dias, me deparei com o texto abaixo no Huffington Post. Por acreditar que ele traduz perfeitamente as turbulências pelas quais estou passando no momento atual da minha vida, decidi traduzi-lo e compartilhá-lo aqui com vocês. Não se trata de uma tentativa de gerar piedade à minha pessoa, mas de tentar fazê-los entender certos comportamentos que eu tenho. Acredite em mim: Eu conheço bem todas as minhas falhas e tento corrigi-las. Mas o fedback errado me frustra e atrapalha. A compreensão me ajuda a ir no caminho certo, enquanto o julgamento reforça a ideia de que mudar é inútil. Quero que me compreendam. Por isto compartilho este texto:


Gina Decicco, 12 de fevereiro de 2016
The Huffington Post

Quando digo à maioria das pessoas com quem converso que tenho um distúrbio de ansiedade, elas balançam a cabeça e me dizem que vou ficar bem. Quando digo a elas: “Desculpa, estou tendo uma crise de ansiedade hoje, podemos remarcar?”, elas sorriem e me dizem que não há nada com que eu deva me preocupar. Basta eu sair da cama para ver que tudo está bem. Quando não quero ir de bar em bar porque sei que o álcool aumenta minhas tendências ansiosas, escuto: “Você está bem. Será divertido. Extravase!”

Enquanto isso, meu coração bate tão rápido que tenho medo de que ele esteja visivelmente batendo para fora do meu peito. Mas ele não está. Minha cabeça também não está rodando em círculos. Meus olhos não estão cruzados como minha visão embaçada indica. Meus joelhos não estão balançando, tampouco meus músculos estão trêmulos, lutando contra a vontade de entrar em colapso. Meu rosto não está pálido e meus olhos não estão vermelhos de sangue. Não, no exterior eu aparento estar do mesmo jeito que todos os dias. Meu cabelo está limpo. Minhas roupas combinam. Estou acordada, viva e respirando normal. Então não há nada de errado, certo?

Errado.

É este o grande detalhe da desordem de ansiedade. Aparentamos estar bem. É claro, nossa aparência está boa. Nossas pernas não estão quebradas. Nossas línguas não foram cortadas. Não temos cortes ou feridas. Porque a ansiedade não é uma incapacidade física. Isto, no entanto, não torna-a nem um pouco menos debilitante.

A ansiedade é uma desordem complexa e não é algo que se afasta com um sorriso ou um balançar de cabeça. Você dizer que tudo está bem não só não ajuda como ofende, porque parece que não está levando isso a sério. 

Eis algumas coisas que eu gostaria que você soubesse sobre a luta contra a ansiedade:

Não é constante. Há dias em que posso lidar com a rotina sem ter que parar e respirar ou tomar um Xanax. Posso sorrir e rir. Posso ser produtiva e ir trabalhar, sair para jantar, ir ao cinema com amigos. E, acredite em mim, eu sei que é difícil entender como posso estar bem num dia e, no dia seguinte, não conseguir sair da cama. É assim que as coisas são. O que me leva ao próximo ponto:

Vem em ondas. A ansiedade é uma fera estranha. Ela deixa eu me divertir por alguns dias e, quando eu penso que ela finalmente me deixou em paz, eu acordo numa manhã qualquer incapaz de colocar meus pensamentos em ordem, porque, por alguma razão, a fera emergiu novamente e não há nada que eu possa fazer para impedir sua chegada, porque eu acordei e ela estava sentada no meu peito, sorrindo, como se fosse bem-vinda.

Pode ser completamente paralisante. Não sei se isso se aplica a todos, mas sei que é uma parte muito grande da minha desordem de ansiedade. Quando ela chega, eu me congelo. Consigo me levantar e fazer os deslocamentos do meu dia, mas meu cérebro está em outro lugar, foi feito refém por qualquer que seja o “demônio” que está me habitando. Não consigo pensar em mais nada, exceto minha incapacidade em pensar ou respirar ou sentir. Absorva isso. Meu cérebro parece que está literalmente paralisado, como se estivesse preso numa espécie de limbo sem portas ou janelas ou saídas de qualquer tipo. A pior parte é que estou completamente sozinha lá.

Destrói relacionamentos. Não só relacionamentos românticos, mas relacionamentos de qualquer tipo. Amizades e namoros podem ser destruídos por esta condição. Já experimentei ambos e é o tipo de perda mais devastadora. Por quê? Porque não é nossa culpa. É uma desordem que, sem o conhecimento de como lidar com ela, pode explodir com o passar do tempo. Eventualmente, pode se tornar um fardo muito grande para outras pessoas carregarem com elas. Se elas desenvolverem laços próximos o suficiente com você para experimentar os efeitos de sua ansiedade em primeira mão, isso pode se tornar um fardo muito grande para elas e elas podem cortar laços com você pelo bem da própria saúde mental delas. E isso dói pra caramba. Mas não posso culpá-las, porque se eu pudesse escolher ficar o mais longe o possível da ansiedade eu também o faria sem pestanejar.

Transforma a confiança em algo quase impossível. Eu sei que parece terrível culpar a ansiedade pela falta de confiança nos outros, mas, honestamente, não se trata de culpar, mas de responsabilizar. A ansiedade nunca falha em te fazer imaginar o pior de cada situação. Se alguém não responde minha mensagem, então é isso, ele não gosta mais de mim. Se alguém não me manda mensagem primeiro é porque não pensa em mim. Pode ser que esteja ocupado? Não. Ele tem coisas melhores para fazer com seu tempo do que gastá-lo comigo. Eu soo ridícula, não? Bem-vindo à vida com a ansiedade. Ela não tem biscoito para te oferecer, mas pode te entreter com uma solidão incapacitante numa mesa para um. Não quer? Imaginei mesmo.

Eu não quero isso. Você realmente acha que se eu tivesse uma escolha eu escolheria desapontar as pessoas que eu amo porque não dou conta de sair de casa? Você acha que eu quero ter tanto medo de sair da cama que ligo para o trabalho com uma desculpa e choro assistindo Grey's Anatomy por 13 horas seguidas? Provavelmente não. Você escolheria isso? Acho que não. Então, quando você disser que estamos sendo dramáticos e buscando atenção, pare por um segundo e pense no que está dizendo. Ninguém, repito, ninguém quer isso.

Desejo não ser assim todos os dias. Não há um dia em que aquela vozinha no fundo da minha mente não me diz que minha vida seria ótima se eu não fosse assim. Se eu pudesse não ter ansiedade, tudo estaria bem. Eu poderia ser verdadeiramente feliz e acreditar que a felicidade não é uma piada ou um truque; que a desgraça não é uma sina que tenho que carregar. Não tenho que carregar nada. Mas não é assim que eu funciono. Para mim, não importa quantas vezes eu diga a mim mesma que tudo vai ficar bem e que estou sendo ridícula, nada está “bem”. Para falar a verdade, até as coisas mais pequenas são um desastre.

Há tratamentos e estou disposta a tentá-los. Muitas pessoas que são diagnosticadas com ansiedade tomam medicamentos para controlá-la. A maioria das vezes eles retiram a sensação de estar vivendo no limite e permitem que eu seja mais funcional na minha vida diária. No entanto, simplesmente tomar remédios não é o suficiente. Tenho tentado ir à academia. As endorfinas geralmente ajudam imensamente. Muitas pessoas fazem ioga e exercícios de respiração. Eles também ajudam. Ainda não tentei-os, mas estão na minha lista. Faço muitas coisas que me trazem a felicidade. Para mim, escrever, cantar e colorir meu livro de colorir são reconfortantes. Além disso, descobri que a psicoterapia é a melhor ferramenta e que vale cada centavo. Ter um terapeuta que está constantemente do seu lado e ali para deixar você falar sem te julgar ou te culpar pela sua condição é uma experiência libertadora. Recomendo demais para quem estiver sofrendo com ansiedade.

Vou superar isso. Mas vai demorar. Lutar contra a ansiedade pode ser uma batalha sem fim com frequentes deslizes e falhas ao longo do caminho. Ainda estou no meio desse processo e não é fácil. Nem um pouco. De longe essa é a coisa mais difícil que eu já tive que fazer em toda minha vida. E já passei por um bocado. A ansiedade, no entanto, rouba o show. Aprender a superar a ansiedade é a tarefa mais difícil que já me pediram para completar. Esses pensamentos, esses que não são verdadeiramente meus, têm o gosto de veneno para minha alma. Mas naqueles dias em que consigo marcar um sinal de vitória na minha agenda, sinto como se pudesse conquistar o mundo. Quero que todos os dias sejam assim e não vou parar enquanto não forem.

Eis o resumo: a ansiedade pode ser bem pesada e assustadora. Não é um ferimento visível, mas isso não faz com que não seja menos legítimo. Precisamos de pessoas em nossas vidas que estão dispostas a nos ajudar e apoiar, e compreender que precisamos de muita ajuda e apoio. Não vou te julgar se você acha que não consegue lidar com o peso que é ser parte da minha vida, mas peço-lhe que não me deixe cheia de esperanças e depois me abandone.

Então, quando eu digo “Eu tenho ansiedade”, eis o que eu quero dizer de verdade: trate-me bem, seja paciente comigo, me apoie. Saiba que tudo o que eu faço é com a consciência de que isso te afeta. Estou lutando para ter o controle da minha vida todos os dias, entenda isso. Sou demais para ser absorvida, eu sei disso. Não sou sempre fácil de ter em sua vida, mas se você permitir, sempre estarei lá quando você precisar de mim. Eu nunca vou me esquecer da sua fidelidade quando a maioria das pessoas me abandonou.

Quando digo “Eu tenho ansiedade”, estou dando-lhe tanto um aviso sobre o barco em que está prestes a embarcar quanto um agradecimento por escolher entrar nele mesmo assim.

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