O título desse artigo é, claramente, uma provocação. Mas é uma indagação muito verdadeira que faço a respeito de mim mesmo. Toda minha vida adulta tenho convivido com uma condição psicológica chamada distimia. Trata-se de um tipo crônico de depressão, com a diferença de que não possui "altos" e "baixos" bem definidos. Posso estar indo super bem num determinado dia até que me deparo com uma decepção e, pronto, estou na pior. Os sintomas, por serem menos graves do que na depressão comum, são mais difíceis de serem percebidos, apesar da distimia durar mais tempo. Muitas vezes, os pacientes só descobrem que têm essa condição depois de algum tempo de sofrimento. Eu mesmo achava que a tristeza era um traço da minha personalidade e que eu deveria aprender a lidar com ela.
Conviver com essa condição é não saber viver. Tenho medo de viver porque não sei lidar com as coisas que fogem do script. Não sei lidar com imprevistos, pressões e cobranças que podem surgir no meu dia-a-dia. Antes de descobrir o que me afligia, eu achava que era louco. E a sociedade ajudou bastante para que eu construísse essa imagem errada de mim mesmo. A sociedade homogeniza seus membros; à ela, nossas individualidades não interessam. Quem não busca a felicidade da propaganda de margarina não é "normal". Ainda mais no meio social em que convivo, o da classe média, onde se acredita piamente que todos têm a mesma capacidade, bastando apenas se esforçar um pouquinho para conquistar os céus. Se eu tive as mesmas oportunidades que os garotos da minha classe social e mesmo assim tenho dificuldades em conquistar o que desejo, é porque devo ser louco, não é mesmo?
Não, eu não sou louco. Sou triste. E muito mais do que você possa imaginar. Sofro de uma tristeza paralisante, que dói no fundo da minha alma e da qual não consigo me livrar a não ser que eu esteja exercendo minha criatividade, como estou fazendo agora, com uma caneta na mão escrevendo esse texto. Mas é fácil para os outros me julgar do que tentar me entender. Talvez se eu tivesse depressão, me entenderiam melhor. Talvez não. Nos tempos atuais, a empatia virou uma peça de museu e perfeitos estranhos se estapeiam nas redes sociais por conflitos mundanos como qual partido político brasileiro rouba menos, qual dos times nacionais de futebol é o menos pior ou, pasmem, qual tragédia foi pior, a de Paris ou a de Mariana. Uma coisa é certa. esse ambiente estava me intoxicando e piorando – e muito – minha condição.
Sair das redes sociais representou apenas o primeiro passo na reconquista da minha sanidade e, consequentemente, da minha vida. Foi a saída de um local, embora não-físico, onde a compaixão não existe – para comigo e para com ninguém. Uma pesquisa recente feita na Dinamarca com mais de mil pessoas concluiu que internautas que ficaram uma semana sem usar o Facebook demonstraram mais satisfação com suas vidas em geral do que aqueles que usaram a rede social todos os dias. Diversos estudos mostram como a realidade é manipulada nas redes sociais de forma que seus usuários estão sempre recebendo notícias boas sobre a vida dos outros. Sentimos que a vida dos outros é melhor do que a nossa. Há, inclusive, um curta-metragem que explora esse fenômeno psicológico chamado de "Facebook effect" por pesquisadores.
Reconhecer que se tem um problema é o primeiro passo para se começar a resolvê-lo. Eu quero qualidade de vida e com certeza farei tudo o que está a meu alcance para consegui-la. Quero ser o senhor da minha consciência. Chega de não saber lidar com os revezes e agir impulsivamente como um animal. Nada importa mais nesse momento do que me recuperar. Chega de cansaço e tédio. Chega de me vitimizar. Quebrar o ciclo de anedonia que tomou conta de mim e recuperar minha joie de vivre, essa é a minha única ambição no momento. Se, ao me recuperar, perder algumas pessoas no caminho, não importa. Quem gosta mesmo de mim quer me ver bem. Assim, quem sabe, conseguirei ficar livre do costume de andar sempre com o celular e, no fundo, ficar esperando que ninguém me ligue. Espero conseguir atingir minha meta. Que eu também possa dizer que experimentei a aflição, mas, com confiança, venci o mundo!
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