sábado, 25 de abril de 2020

Obrigado, Taylor

Antes de se apresentar no One World Together at Home, o especial transmitido pela Organização Mundial de Saúde e pela Global Citizen para conscientizar a audiência sobre as medidas de combate ao novo Coronavírus, Taylor Swift prometeu aos fãs uma performance memorável. E foi justamente o que ela fez. Sentada no piano de sua casa, ela interpretou "Soon You'll Get Better", uma das faixas de seu último disco, Lover (2019). A cantora e compositora havia afirmado anteriormente que jamais cantaria essa canção ao vivo, já que foi uma das mais difíceis de gravar em toda sua carreira. Ela a escreveu como forma de lidar com o diagnóstico e o subsequente tratamento de câncer de sua mãe, Andrea. Mas a canção — que nunca cita o nome da doença em questão — foi ressignificada e oferecida como um conforto para todos aqueles que estão preocupados com seus entes queridos que estão internados numa UTI devido à COVID-19. É uma forma de interpretar a performance.

Taylor foi uma das pessoas do ano da revista
Time...
Eu a interpretei como uma mensagem à totalidade das pessoas do mundo, enfermas ou não, cujas vidas foram afetadas devido à maior crise sanitária dos últimos cem anos. Para mim, foi como se ela estivesse dizendo: "Mundo, logo você vai melhorar". Mas isso foi só a forma  — talvez simplista  — que eu, que ainda não fui atingido por essa doença trágica e devastadora, recebi a mensagem. Por enquanto o novo Coronavírus só se faz presente em minha vida como uma ameaça e eu, felizmente, não sei o que é passar por essa doença. Apesar disso, ela está se aproximando cada vez mais de mim. Se antes ela estava apenas nos jornais, agora está a apenas dois graus de separação. E isso me assusta e faz de cada ida ao supermercado uma experiência amedrontadora. Isso porque, apesar da crença maniqueísta de que a doença só mata as pessoas do famigerado "grupo de risco",  ¼ das vítimas fatais tem menos de 60 anos e não apresentam nenhuma comorbidade.

Foi só depois de assistir novamente à apresentação — algo que eu tenho feito muito ultimamente, pois é algo que me reconforta em tempos de ansiedade extrema — que eu pensei nessa outra mensagem possível dela. E alguns fãs de fato reclamaram do fato da cantora não ter dito nada nem antes e nem depois da apresentação. Ela "só" cantou. Mas eu acho que foi proposital. Além de ser uma música muito pessoal para ela — e há momentos em que ela parece segurar o choro —, eu penso que ela quis deixar livre a interpretação. Cada pessoa está se relacionando com a pandemia de uma maneira, então cada um vai se relacionar com aquela canção, originalmente sobre reconfortar alguém que está numa batalha contra o câncer e que a cantora agora está oferecendo ao mundo como um conforto à crise em que estamos vivendo, de uma forma bastante íntima e pessoal. Há quem vá relacionar com a mulher que é enfermeira, já alguns vão pensar em algum parente que está na UTI lutando contra o COVID-19 e outros, como eu, vão pensar que se trata de uma mensagem de apoio mais geral.

Isso me faz pensar na importância da Taylor Swift na minha vida. No documentário Miss Americana, ela fala sobre a identificação quase imediata que acontece entre seus fãs e as letras de suas canções. É algo muito forte que acontece comigo. Não sei se pelo fato de termos nascido no mesmo ano de 1989 (eu em 13 de novembro e ela em 13 de dezembro) e passarmos por experiências de crescimento quase que ao mesmo tempo, o que ela sugere que acontece com seu público no documentário. O fato é que ela se fez presente em praticamente todas as experiências importantes da minha vida nos últimos sete ou oito anos através de sua música e durante esse momento de confinamento sanitário não seria diferente. O simples fato dela ter aparecido no evento já tornaria aquele o grande momento do One World Together at Home para mim. Mas o fato de que ela tenha escolhido uma de suas canções mais difíceis de interpretar e oferecido como conforto a todos nós, que estamos passando pelo momento mais desafiador da história recente da humanidade, o tornou ainda mais grandioso do que ele já foi.


Uma história de identificação


Não lembro ao certo quando Taylor Swift entrou na minha vida. Pode ter sido durante meu intercâmbio no Canadá em 2010, quando o PT estava destruindo o Brasil e o dólar era apenas R$ 1,70, o que me possibilitou aquela experiência. Lembro de estar no ônibus da universidade para o centro de Victória quando começou a tocar "Half of My Heart", dueto da Taylor com seu então namorado John Mayer (que ironicamente tirou a versão com ela de seu catálogo após a separação deles), na rádio. Apesar de ter gostado da canção, àquela altura eu não prestava muita atenção na cantora. Para mim, ela era apenas uma adolescente de um gênero musical que eu não gosto — o country — que escrevia músicas bobas sobre amor ou desilusões amorosas com os exs. É assim que nós somos ensinados a julgar as mulheres que fazem música na nossa sociedade. E a própria Taylor, àquela altura, já começava a denunciar a misoginia da qual era vítima. Se um homem pode escrever sobre suas exs e ser levado a sério, por que ela não poderia fazer o mesmo?

A Taylor começou a realmente chamar minha atenção durante sua transição para o pop, o que ocorreu a partir do lançamento do álbum Red em 2012. Mas era um álbum um tanto quanto confuso e pouco coeso, apesar de ter produzido algumas faixas com as quais eu definitivamente conseguia me relacionar, tais como "Red" (sobre um amor intenso que acaba de repente), "I Knew You Were Trouble" (sobre se sentir culpado por ter se apaixonado por alguém que você sabia desde o início que era errado para você), "All Too Well" (sobre começar a fazer planos e o relacionamento acabar), "22" (sobre ter 22 anos, que era minha idade na época), "We Are Never Ever Getting Back Together" (sobre não querer voltar com o ex), "The Last Time" (sobre o momento do término), "Begin Again" (sobre ter a coragem de voltar a namorar mesmo estando machucado por um término) e, principalmente, a faixa-bônus "The Moment I Knew" (sobre levar um bolo do namorado no dia da sua festa de aniversário, o que, por algum motivo, acontece sempre comigo).

Foi durante a era seguinte da cantora, emblematicamente intitulada "1989", o ano em que nascemos, que eu percebi que estava diante de uma grande compositora e letrista. Ao ponto dos críticos mais cult torcerem o nariz para o disco, mas aclamarem a versão folk dele feita pelo músico Ryan Adams. Trata-se de um cover, na mesma ordem e com mudanças mínimas nas letras, de todas as faixas da versão original da Taylor e que, devido à briga da cantora com as plataformas de streaming, era o único meio que eu tinha de ouvir ao disco no Spotify. O disco produziu faixas como "Bad Blood" (sobre amizades que terminam em rixa), "Out of the Woods" (sobre um relacionamento que passa por um período de trevas), "All You Had to Do Was Stay" (sobre namoros que acabam porque uma das partes não lutam por ele), "Wildest Dreams" (sobre se apaixonar por uma pessoa que você sabe que vai dar errado), "I Know Places" (sobre proteger um relacionamento do escrutínio dos outros) e "Clean" (que compara o término a uma enchente que lava a alma).

Após receber o Grammy de álbum do ano em 2016, Taylor passou por um período de intensa exposição na mídia. Sua imagem estava saturada junto ao público e ela começou a sofrer ataques de todos os tipos. De rixas com Katy Perry, Calvin Harris (seu ex) e o casal Kanye West e Kim Kardashian a críticas sobre apropriação cultural, promoção de padrões de beleza inatingíveis e rivalidade feminina e à forma como explorava sua vida pessoal nas letras de sua música e até ao fato de que ela não declarou em quem votou para presidente, de repente criticar Taylor Swift se tornou cool. Taylor decidiu, então, sair da cena pública. À exceção de uma colaboração com o cantor Zayn para a trilha-sonora de Cinquenta Tons Mais Escuros ("I Don't Wanna Live Forever", com a qual eu também me identifiquei após um breve e estranho relacionamento em dezembro de 2016), a cantora permaneceu reclusa até agosto de 2017, quando lançou "Look What You Made Me Do", primeiro single do projeto Reputation.

Taylor voltou explorando seu lado mais sombrio e negando as Taylors do passado — sobretudo a Taylor ingênua e romântica da era country —, para o despontamento de alguns fãs. Essa nova Taylor, que não pede desculpas pela imagem que criaram dela e, ao invés disso, a assume, acabou surpreendendo e conquistando toda uma nova legião de fãs. Apesar de ter gostado muito do single principal, durante esse período eu estava passando por um momento difícil na minha vida pessoal e não consegui me identificar muito com o álbum. Acho que, inclusive, a falta de identificação ocorreu de propósito, pois eu sabia que se fizesse isso, acabaria explorando meu próprio lado mais sombrio e não era algo que eu queria que acontecesse. Quando o último single, "Delicate", foi lançado, no entanto, eu consegui me identificar com ele pelo fato de estar apaixonado e tentando não estragar tudo demonstrando todas as minhas emoções logo de cara. Eu acabei me identificando posteriormente com o Reputation, mas pretendo explicar isso mais a frente.

Ano passado, a Taylor voltou com um single de pop chiclete ("ME!") que indicava que eu não suportaria de maneira alguma o novo projeto dela. No entanto, eu não poderia estar mais errado. Tirando essa faixa — e a maioria dos fãs também a detestam —, o disco consegue ser talvez o melhor e mais coeso da cantora até agora. A proposta é curar as mágoas do passado — o que ficou bem evidente quando ela pôs fim à rixa com a Katy Perry no clipe de "You Need to Calm Down" — e se permitir ser uma pessoa amorosa. É a cura através do amor. E é tudo o que eu precisava depois da desastrosa eleição de 2018, que levou o país a uma polarização insana entre a direita histérica e a esquerda surtada. "Vocês precisam se acalmar", diz a cantora às pessoas que brigam na internet. E eu não poderia concordar mais. Ela fala até sobre encontrar o amor em tempos de fascismo, na faixa "Miss Americana & the Heartbreak Prince". Na última faixa do disco, a cantora proclama: "Quero ser definida pelas coisas que amo, não pelas coisas que odeio ou que me causam medo ou me assombram no meio da noite. Eu acho que nós somos aquilo que amamos".

Terminar aqui seria em bom tom, mas infelizmente veio um período sombrio de identificação com o Reputation no começo de fevereiro. Passei por uma situação um tanto quanto incômoda e embaraçosa que, ao assistir ao documentário Miss Americana, percebi que se tratava de um assédio sexual. Infelizmente, até nisso passamos, Taylor e eu, por situações parecidas. Saber, através do documentário, que o tom sombrio do álbum tem a ver também com aquela experiência pela qual a cantora passou me fez conseguir, enfim, me conectar com aquele álbum. Felizmente, me encontro atualmente numa situação muito melhor do que aquele em que eu estava em 2017 — agora tenho metas e objetivos de vida — e consegui passar pelo processo de encarar esse demônio e o lado sombrio que ele despertou de maneira surpreendentemente rápida. A maior crise sanitária global dos últimos 100 anos também ajudou a tirar minha mente daquilo, embora eu acho que a questão já estava resolvida quando a quarentena bateu à minha porta.

...e da revista People.
Praticamente toda experiência humana pela qual eu passei nos últimos sete ou oito anos encontrou eco em alguma canção da Taylor Swift. E, quando não há uma canção específica para uma situação, existe alguma que pode ser ressignificada, como foi o caso de "Soon You'll Get Better" no One World Together at Home (ou, ainda, de "Only The Young", que é sobre a ascensão do fascismo, mas diz coisas como "eles não vão nos ajudar, precisamos fazer isso nós mesmos"). Isso significa não só que a cantora é uma boa letrista como também que ela consegue estabelecer uma relação de identificação única com o público. Minha história acaba sendo uma história de identificação com as letras da Taylor. Me vejo em suas canções e elas definitivamente causaram impacto na minha vida e me ajudaram a passar por momentos que sinceramente eu não sei se conseguiria enfrentar sem a ajuda de sua música. Sem saber que a cantora também passou por algo parecido e superou aquilo.

Claro que nem todos vão se identificar com as músicas da cantora. A minha experiência nesse mundo é muito particular. As questões com as quais eu tenho que lidar podem não ter grande caráter existencial ou de sobrevivência, mas são dores com as quais eu tenho que lidar e, se eu não fizer isso, provavelmente acabarei recorrendo à psicossomatização delas. Desde pelo menos 2012, a música da Taylor me ajuda a lidar com essas questões que, muitas vezes, são inéditas para mim. Ela representa um escape e, ao mesmo tempo, uma maneira de lidar com emoções com as quais eu não sei lidar muito bem porque estou experimentando-as pela primeira vez. Eu sinceramente não sei se estaria aqui hoje sem a Taylor e sua música. Sou grato a ela pela música que ela faz. Sobretudo em tempos tão incertos quanto esses em que estamos vivendo. Mal posso esperar para vê-la no Allianz Parque no ano que vem, quando toda essa loucura tiver passado. Vai ser minha forma de agradecê-la por tudo.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Como seremos julgados no futuro?

A maior parte das vítimas do COVID-19 no Brasil terá cor de pele e bairro de origem bem definidos. Serão negros e moradores de comunidades carentes. Isso ocorre devido à forma com que a sociedade brasileira foi construída historicamente. Durante mais de 300 anos de escravidão, os negros sequer eram considerados seres humanos. E, depois da abolição, tiveram o direito à moradia e ao trabalho negados. Motivo este pelo qual a maior parte da população das favelas é composta pelas pessoas de pele negra.

Segundo o estudo Mapa da Desigualdade, feito pela Rede Nossa São Paulo em 2018, um morador do bairro Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, vive em média 23 anos menos do que um habitante dos Jardins, bairro de classe alta do mesmo município. E o Estado, que deveria atuar no sentido de atenuar essa diferença, age muitas vezes no sentido de agravá-la. Ao aprovar a reforma trabalhista, por exemplo, o Estado retirou duas dezenas de direitos que os trabalhadores haviam conquistado ao longo da história. Já a Reforma da Previdência aumentou o tempo que os brasileiros precisam trabalhar com carteira assinada para garantirem sua aposentadoria no final da vida.

Isso quando os moradores das comunidades carentes conseguem trabalho com carteira assinada, porque os diversos anos de crescimento econômico limitado do país tem provocado uma explosão da informalidade, o que não lhes garante nenhum dos já escassos direitos previstos pela legislação trabalhista brasileira. Some-se a isso a precariedade do ensino e da saúde pública, a falta de opções de cultura e lazer e até mesmo o acesso limitado ao saneamento básico e temos a receita perfeita para a abreviação da vida dos moradores das inúmeras favelas do país.

Abro um parênteses aqui para citar também a violência policial. O mesmo Estado que não se faz presente para garantir uma vida digna para as populações das comunidades carentes, se faz muito presente na vida dessas pessoas através de seu braço armado para reprimi-las de maneira brutal e garantir a "ordem" prevista em nossa bandeira — ou seja, que a atual estrutura social do país, estabelecida ainda durante o período da colonização, permaneça imutável para sempre. 

É criminoso que em meio à maior crise sanitária dos últimos cem anos, lugares como Paraisópolis lutem com a falta de água encanada a noite e que mais de 140 comunidades do Rio de Janeiro estejam sem acesso a água potável como um todo. (Esgoto, a maioria desses lugares nunca nem teve). Não bastasse a incapacidade do Estado em garantir que boa parte de sua população pratique o ato mais básico quem contém a infecção pelo Coronavírus — lavar as mãos —, os moradores das comunidades carentes do Brasil sequer podem se higienizar de outra forma, já que também são os primeiros a sentirem o impacto da opressão econômica. O preço do álcool em gel aumentou de maneira abusiva e o produto já sumiu das prateleiras até dos supermercados de bairros de classe média.

Além disso, existe o problema das moradias precárias e praticamente contíguas umas às outras. Há casos de 11 pessoas que moram juntas na mesma casa, o que impossibilita que o isolamento social de um metro e meio entre as pessoas ocorra de fato. Se apenas uma das pessoas for contaminada, todas as outras serão e isso pode dizimar famílias inteiras. Isso sem mencionar que muitas dessas pessoas vivem em invasões, que podem ser desocupadas pelas já mencionadas forças repressivas do estado a qualquer momento, ou correm o risco de serem despejadas de suas moradias devido à falta de pagamento de aluguel.


Uma alternativa


O Estado tem que ser responsabilizado pela situação à qual relega sua população mais pobre. É criminoso que ele não garanta a vida de pelo menos 14 milhões de habitantes e a pandemia do COVID-19 desnudou seus crimes contra essa parcela da população. Infelizmente, essa parece ser uma política de Estado desde que o Brasil é Brasil. Colônia, Império, República, ditadura, democracia, não importa o sistema ou a forma de governo, nada parece mudar para as populações marginalizadas desse país. É totalmente compreensível o sentimento de impotência dessa população.

Mas nós, que temos algumas condições, não podemos ficar indiferentes diante da omissão de um Estado que cada vez mais assume seu caráter criminoso e genocida. Nós podemos e devemos fazer algo!

A Central Única das Favelas (CUFA), entidade não-governamental criada há mais de 20 anos e presente em todo o país, está arrecadando doações para o projeto "Mães da Favela", que pretende oferecer cartões de crédito com o valor de R$ 240 — a ser liberado em duas parcelas de R$ 120 — para as moradoras de comunidades carentes de todo o Brasil para que elas e seus filhos possam sobreviver durante esse período que, além de todos os problemas já citados acima, acrescentou-lhes ainda o desafio de permanecer sem renda durante a quarentena.

A fome não espera. As urgências dos moradores das favelas são imediatas e não podem esperar que o  Estado, comandado de maneira mesquinha pelo atual governo, libere o auxílio emergencial — que, pasmem, em muitos casos está sendo sequestrado pela própria Caixa para quitar dívidas dos correntistas com o banco. Como diz a apresentadora Eliana em vídeo publicado no perfil da CUFA nas redes sociais, enquanto nós pensamos nos próximos meses, as mães da favela estão pensando nos próximos dias e no que elas terão para oferecer a seus filhos.

É possível ajudar acessando a página do projeto, que aceita doações de valores a partir de R$ 30 e aceita pagamentos através de cartão de crédito, boleto bancário e PicPay. Graças às comodidades que temos atualmente em nossas mãos, não é necessário nem mesmo sair de casa para ajudarmos. 

Viver em sociedade também significa ajudar os membros dessa sociedade que precisam. Num mundo ideal, essa ajuda viria do Estado, que existe para organizar a sociedade. Mas o Estado brasileiro existe para garantir os privilégios da elite. Então, cabe a nós mesmos, exercermos esse papel. Como bem diz o astronauta Scott Kelly, que escreveu um artigo no New York Times com dicas sobre como sobreviver à quarentena, "todas as pessoas estão inevitavelmente interconectadas, e quanto mais pudermos nos unir para resolver nossos problemas, melhor nos sairemos". Ele cita, inclusive, os benefícios à saúde para quem ajuda os outros — já comprovados em pesquisa — e que pode ajudar a prevenir contra o COVID-19.

Creio que seremos julgados no futuro, enquanto sociedade, pela forma como cuidamos uns dos outros e, principalmente, dos mais vulneráveis. Os tempos atuais são desafiadores e eu entendo o sentimento de impotência, mas sempre existem pessoas que estão mais impotentes do que nós. A tecnologia existente hoje nos permite ajudar quem precisa sem sequer sair de casa. É um desperdício não usar os recursos à nossa disposição, tanto tecnológicos quanto financeiros, para não tentar criar um impacto positivo nas vidas de pessoas que foram abandonadas pelo Estado, ainda mais agora que elas  mais precisam de nós.