sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Pátria educadora ou Haiti?

Quando escolheu "Pátria Educadora" como slogan de seu segundo mandato, Dilma Rousseff estava pensando nos royalties do pré-sal que ela, enquanto ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula (2003—2010), havia garantido para a educação. Com o início da exploração da camada pré-sal dos campos petrolíferos descobertos pela Petrobras, a educação brasileira veria aportes de recursos jamais imaginados para o setor na história do Brasil. Inclusive, se houve um ministério que Dilma não descuidou no seu segundo e breve mandato, este ministério foi o MEC. Primeiro ela nomeou como ministro o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, responsável por uma revolução no ensino médio daquele estado. Após um bate-boca com Eduardo Cunha, Gomes foi substituído pelo brilhante professor de filosofia da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, que introduziu o tema da violência de gênero no ENEM, para o desespero dos misóginos.

O pré-sal é, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição. Trata-se da maior riqueza mineral encontrada no século XXI. O PSDB, partido que representa os interesses das empresas internacionais na política brasileira, não iria deixar o PT usá-lo como bem entendesse. Primeiro, acionou seus contatos na imprensa (que, segundo a própria presidente da Associação Nacional de Jornais, virou um partido de oposição) para demonizar o PT de forma que os brasileiros passassem a achar que se tratava do partido mais corrupto da história da Via Láctea, embora o nível de corrupção em ambos os partidos seja praticamente o mesmo. Depois, demonizou a própria Petrobras, de forma a inviabilizar sua participação na exploração do pré-sal. Para isso, acionou seus contatos no Ministério Público e na Justiça para promover uma devassa nos contratos da empresa. A ideia a ser vendida à população era simples: o PT destruiu a empresa e só Sérgio Moro seria capaz de moralizá-la.

Ficou claro agora, no entanto, que a "moralização" da Petrobras não passou de um espetáculo político-midiático para justificar a entrega de nossa maior riqueza mineral para os estrangeiros. A empresa, supostamente destruída pelo PT — embora sua saúde financeira estivesse bem antes de ser atacada por agentes do próprio Estado brasileiro —, só irá se recuperar com a ajuda dos estrangeiros "bonzinhos". Afinal, tudo o que vem de fora é melhor, não é mesmo? Um próprio exemplo disso é o juiz Moro, que volta e meia faz cursos de treinamento, quer dizer, reciclagem nos Estados Unidos. Era preciso, no entanto, derrubar a presidente Dilma para concluir a transição do nosso petróleo para o estrangeiro. Entra em cena o PMDB. Michel Temer tentou negociar com Dilma para que ela entregasse o poder e mantivesse o cargo, mas ela não aceitou. Recentemente, o traidor confessou para empresários norte-americanos que Dilma caiu porque não aceitou sua Ponte Para o Futuro, que nada mais é do que a negação completa do projeto vencedor da eleição de 2014.

Pense no Haiti. Reze pelo Haiti. O Haiti é aqui.
Dilma preferiu cair do que sucumbir à pressão entreguista dos peemedebistas. Embora tenha colocado em prática uma tímida política de austeridade, ela jamais defendeu o corte de gastos na área social. Sua crença no Estado enquanto agente de transformação social custou-lhe o poder, assim como havia custado a João Goulart em 1964. Estava inflexível e precisava ser derrubada. Agora que foi feito isso, não há mais empecilhos para o desmonte do Estado social brasileiro. Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4567/16, que desobriga a Petrobras a participar na exploração de pelo menos 30% de cada bloco do pré-sal. Os argumentos dos deputados é que a Petrobras, após a devassa que sofreu na Lava Jato, não teria condições de arcar com as despesas de explorar os campos de petróleo. Estima-se que o Fundo Social do Petróleo, cuja 75% da arrecadação iria para a educação, deve perder quase 50 bilhões de reais com a mudança na legislação.

O referido projeto é de autoria do senador paulista José Serra que, segundo o WikiLeaks, é um informante da multinacional petrolífera Chevron no Brasil. Políticos como ele morrem de medo da melhoria do sistema educacional. A votação do último dia 5 fez-me lembrar de Caetano e Gil: "na TV, se você vir um deputado em pânico, mal dissimulado, diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer plano de educação que pareça fácil, que pareça fácil e rápido, e vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau (...) pense no Haiti, reze pelo Haiti. O Haiti é aqui". O Brasil tinha uma escolha em suas mãos. Ou virava a "Pátria Educadora" ou virava o Haiti. Protestou nas ruas contra o primeiro e escolheu o segundo. Espero que estejam orgulhosos de sua escolha! Agora está claro para mim: nunca foi por passe livre, por "escola padrão FIFA" ou por uma política livre de corrupção. Foi para o Brasil voltar a ser o Haiti. Pode até não ter sido esse o desejo de todos que saíram às ruas, mas era o desejo dos organizadores e é o resultado que teremos.

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