quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O que o apelo massivo de Taylor Swift pode ensinar às igrejas?

Por Jesse Carey, na Relevant

Taylor Swift é a estrela do momento.

Desde o lançamento de 1989, seu álbum de crossover para o pop, o fenômeno do country transformado em máquina de hits se tornou uma fixação cultural inescapável.

O álbum é um dos mais bem sucedidos comercialmente em décadas, tendo vendido quase 9 milhões de cópias globalmente, ascendido para o topo das paradas em todo o mundo e gerado centenas de milhões de visualizações no YouTube. Até mesmo covers se tornaram hits.

Mas muitos álbuns acabam vendendo milhões de cópias. O que faz 1989 diferente é que, além de lucrar muito, é uma estranha força cultural unificadora.

O pelotão de colabores incluem todo mundo de Kendrick Lamar - indubitavelmente o artista mais importante do hip-hop - a Ellie Goulding, de Hayley Williams do Paramore à atriz Lena Dunham (algumas das celebridades que apareceram no videoclipe de "Bad Blood", single de 1989). Swift reivindica os fãs antigos, que amam-na por seu trabalho country, e os novos, que compram seus singles pop. O álbum inclui, dentre os produtores, do queridinho do indie Jack Antonoff (Steel Train, Fun., Bleachers) ao guru da música pop Ryan Tedder (cantor do OneRepublic que já produziu música para estrelas pop como Beyoncé, Kelly Clarkson, Jordin Sparks, One Direction e Maroon 5).

Até mesmo o anti-herói do country alternativo Ryan Adams, conhecido por suas opiniões espinhosas sobre a música comercial, é um fã do disco; ele está gravando um álbum com covers de todas as canções de 1989.

1989 é aquele álbum pop cada vez mais raro, que é tanto universalmente elogiado por outros artistas e críticos quanto acessível para os mais casuais fãs de música.

Mas há algo a mais que explica o apelo massivo de Taylor Swift.


O momento cultural

1989 é um álbum ótimo e seus singles são canções muito boas. Mas, na música pop, a música é apenas uma pequena parte integrante do álbum. Em muitos aspectos, a música pop é tanto sobre a imagem quanto à arte. É tanto sobre uma ideia subjacente quanto sobre as letras.

Elvis era icônico apenas em parte devido a sua música. Ele representava tanto uma mudança no humor cultural quanto um gênero musical. A música dos Beatles sobrevive, mas também sobrevive o estilo deles. Michael Jackson era um gênio musical, mas há vários gênios musicais; no entanto, há apenas um Rei do Pop. Beyoncé é uma criadora de hits, mas foi sua imagem de auto-empoderamento que a transformou numa superestrela.

Há uma citação famosa do filósofo Joseph de Maistre que diz: "Cada nação tem o governo que merece". O mesmo argumento pode ser usado na música: Cada cultura tem a estrela pop que merece. A cultura ajuda a criar os ídolos pop que ela quer seguir.

As estrelas pop são mais do que a simples soma de seus hits; o sucesso deles deve-se, em parte, àquilo que seu sucesso representa.

Elvis era um ícone da ascensão da cultura jovem e do afrouxamento dos valores puritanos. Os Beatles eram ícones da expansão cultural e da adoção de novas ideias. Michael Jackson transcendeu as barreiras raciais. Beyoncé é uma self-made woman que ajuda a transmitir confiança num período de transição cultural. Nas mais variadas eras da música pop (grunge, hip-hop, glam rock, Motown, etc.), as tendências refletem não só os valores culturais - mas os vácuos culturais. É recorrente os fãs de música usarem um artista para ajudar a dar voz e incorporar aquilo que eles querem ver representado na cultura.

Olhar para o que a estrela pop do momento - que por acaso é uma cantora de Nashville com um álbum pop que vendeu milhões de unidades - representa, não só nos diz algo sobre os gostos culturais coletivos. Também nos diz algo sobre o vácuo que a coletividade quer preencher. É um vácuo ao qual a Igreja também precisa responder.


O apelo de Swift

Taylor Swift no VMA desse ano.
Uma das coisas que torna a ascensão de Taylor Swift tão interessante é o quanto proativamente desinteressante ela tende a ser - pelo menos no sentido de celebridade de tabloide. É claro, ela escreve sobre dramas de relacionamentos pessoais, mas sempre de maneira velada, quase sempre inocente. Ela é mais conhecida por tentar apaziguar brigas do que por iniciá-las. No caso de uma rixa com Nicki Minaj no Twitter, ela foi diretamente apologética.

O VMA mais recente foi um exemplo perfeito. Numa noite repleta de apresentações, roupas e aparições que tentavam chocar umas às outras, o tempo de Taylor Swift na telinha foi notavelmente contido e gracioso.

Bem ou mal, a imagem de Taylor Swift é segura. Embora 1989 tenha sido um risco criativo, foi um altamente calculado. (A campanha envolvendo seu lançamento literalmente envolveu a mudança da cantora de Nashville para Nova York.) Seja ela cuidadosamente cultivada ou autêntica (ou ambas), a imagem de Taylor Swift baseia-se na bondade para com os fãs, no amor para com seu pelotão de amigas, nos romances inocentes e em sua graciosidade para com outros artistas.

É uma marca que nossa cultura abraçou, uma vez que é algo que nossa cultura deseja.


O que a Igreja pode aprender?

Semeadores de igrejas, teólogos e evangelizadores estão constantemente à procura de maneiras de "alcançar" a cultura e se relacionar com os desejos coletivos das massas. O apelo de Taylor Swift fornece um olhar nessa direção.

E o que faz com que esse tipo de imagem - de segurança, de amizade e de graça - tão notável é que ela parece contradizer diretamente a maneira como tantos cristãos são vistos (pelo menos na mídia). Um olhar sob as manchetes do dia envolvendo cristãos os mostram muito mais envolvidos em questões divisivas - dos ativistas anti-gay e das picaretagens disfarçadas às brigas entre pastores, das gangues das redes sociais que bancam a polícia teológica aos líderes dominados pelo escândalo. A mensagem que está sendo perpetuada voa na direção oposta daquilo que a cultura parece gravitar.

Numa época em que tantos cristãos e líderes cristãos se utilizam de um tom defensivo e combativo (em especial na temporada política), a cultura encontra sua próxima estrela pop numa garota-da-casa-ao-lado que parece ter pouco interesse na libertinagem, na ousadia e em iniciar brigas. A imagem de Swift é sobre a união e não a divisão.

As escrituras ensinam que um cristão deve observar certas regras morais e que os seguidores de Cristo devem apoiar as vítimas da injustiça. Mas se a imagem coletiva da Igreja se tornar mais conhecida por aquilo que opomos do que por aquilo que defendemos, estaremos correndo o risco de nos isolarmos de uma cultura que se interessa pela união. Há certamente causas que valem a pena ser defendidas e males que precisam ser expostos. Mas há também pessoas que precisam saber o que é ser amado apesar dos erros, ter uma segunda chance e experimentar a graça divina.

Assim como a revolução dos talk shows nos mostra que o gosto da cultura pelo cinismo está azedando, o apelo massivo de Taylor Swift evidencia que a cultura popular está à procura de um tom unificador para combater a falta de gentileza em nossos discursos.

Em alguns círculos, é comum o refrão de que Jesus não se preocupava demasiadamente com a gentileza. É verdade que há uma diferença entre a gentileza e o amor, mas isso não significa que eles excluem-se mutualmente. Sim, Jesus pregou a verdade - mesmo quando a mensagem era difícil para alguns entender. Mas ele também se portava de maneira que atraiu grandes multidões, tornou-se querido pelas massas e fez com que as pessoas quisessem largar tudo para segui-lo. Ele tratava as pessoas com dignidade e respeito. Ele não tentava dividir ainda mais as pessoas de seus inimigos. Ele tentava uni-los.

A ascensão de uma estrela pop como Taylor Swift demonstra que pelo menos partes da cultura julga a ideia de união e gentileza apelativa numa época em que muitas coisas nos dividem.

Os odiadores sempre odiarão, mas a Igreja não deveria estar no meio deles.

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