quinta-feira, 19 de novembro de 2015

É morrendo que se renasce

Em "Nobody Knows Me", uma de suas canções mais introspectivas, Madonna canta: "Eu tive tantas vidas / desde que eu era criança / E eu percebo / Quantas vezes morri". Também morri tantas vezes desde aquela tarde de segunda-feira de novembro de 1989 na qual estreei no mundo que até perdi as contas. Eu era geralmente assassinado. Pelas mãos da Igreja Católica, com sua moral rígida e complexa; do sistema educacional, que não permite a expressão plena de nossas individualidades e sonhos; dos "amigos" que me usaram para atingir seus próprios objetivos e, por fim, dos "amores" que tentaram me usar para atingir seus próprios desejos. No último dia 13, no entanto, decidi me me encarregar da matança pela primeira vez para que um Rodrigo novo pudesse surgir.

Assim sendo, em 14/11/2015 eu renasci. A dor do parto foi tão intensa que eu chorei. Mas a verdade é que um novo Rodrigo, mais verdadeiro, enfim surgiu. Abandonei o Facebook e o Twitter (meus perfis ainda estão lá, mas não são mais alimentados) e decidi escrever só para quem realmente estiver interessado em ler o que tenho a dizer. O novo Eu busca uma relação mais saudável ao estabelecer suas relações dialogais. E foi também empoderado. A partir de agora, não espero nada de ninguém além de mim mesmo e não dou a mínima para o que os outros pensam de mim. O novo Eu se libertou das poucas amarras sociais que ainda lhe impediam de ir atrás de seus desejos. E o mais importante de tudo: o novo Eu se aceita como um cara que tem defeitos e que erra – para caramba.

Essa foi, sem sombra de dúvidas, a melhor morte que já tive. Porque foi a morte das aparências e das meias-verdades. Tornei-me um ser completo e não mais um algoritmo. Foi a morte da virtualidade em prol da realidade. Quero relações reais com pessoas de verdade. Quero gostar de pessoas e não uma sequência de algoritmos que formam as informações apresentadas num monitor. E quero que gostem de mim por aquilo que sou e não pela imagem que sites de redes sociais criam de mim. Em resumo, foi a morte das mentiras, das falsidades e das hipocrisias virtuais. A partir de agora minha imagem pública será tão verdadeira quanto possível. As minhas personas se encontraram e o resultado disso está sendo lindo. Estou leve como uma pena. Sinto-me sexy, confiante e forte como nunca havia me sentido antes.

Tão importante quanto promover o encontro das minhas personas, pública e privada, virtual e real, esse renascimento foi importante por fechar um ciclo iniciado meses atrás. Na verdade uma jornada de auto-conhecimento. Já que comecei o texto citando uma música, gostaria de terminá-lo citando outra. Em "Greatest Love of All", Whitney Houston canta: "O maior amor de todos está acontecendo para mim / Encontrei o maior amor de todos dentro de mim". Piegas, mas tão verdadeiro que chega a incomodar. Foi preciso me perder para me reencontrar. Fim de relacionamento, depressão, comportamento auto-destrutivo, reconciliação e subsequente rompimento com a Igreja Católica, conversão ao protestantismo, alienação e reintegração social, os últimos treze meses não foram nada fáceis para mim. No entanto, consegui me reposicionar, redefinir meus valores e, por fim, renascer. 

Liberte-se de suas gaiolas. Charge da Laerte.
Como em toda jornada, perdi coisas pelo caminho (talvez a mais notória seja a vontade de militar na política). Isso pode desagradar a algumas pessoas. Mas estou pouco me lixando para quem não vai gostar desse renascimento. As pessoas andam tão confinadas em suas prisões mentais que acham ofensivo quem não aceita se prender também. Mas para o novo Eu, o Rodrigo renascido, o Outro não importa mais tanto assim. Percebi que idealizar o Outro é coisa de pessoas incapazes de lidar com suas expectativas frustradas pela realidade – caso de neonazistas, terroristas árabes e tucanos mau-perdedores de eleição. Entretanto, se alguém gostar do meu renascimento é porque essa pessoa está disposta a conviver com o verdadeiro Eu. Sinal maior de amizade não há. Serei eternamente grato a quem compreende que é morrendo que se renasce.

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