segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Wall Street aplaude líder congressista corrupto que alimenta impeachment no Brasil para se salvar


O presidente da câmara baixa do Congresso do Brasil, Eduardo Cunha, voltou ao assunto, levando adiante o pedido de impeachment da presidente na quarta-feira. Wall Street comemorou a notícia, ao elevar os fundos iShare MSCI Brazil (EWZ), o negócio mais quente do mercado nessa quinta-feira, em quase 2,5% no fechamento.

Cunha cerrou fileiras com Dilma não porque ela está atolada
em escândalos, mas porque ele é parte do escândalo.
Infelizmente, ninguém além dos investidores de longo prazo tem algo a comemorar. Essa semana, a Goldman Sachs alertou que o Brasil estava além da recessão e agora enfrenta uma depressão. Uma das razões para a inércia econômica é o ponto morto no Congresso. Parece que todos na elite política em Brasília agora são criminosos procurados. Cunha com certeza é um deles. Membro do Partido do Movimento Democrático (PMDB), Cunha cerrou fileiras com o governante Partido dos Trabalhadores (PT) não porque este está atolado nos escândalos da Petrobras, mas porque ele mesmo é parte do escândalo e a presidente Dilma Rousseff e seu vice do PMDB, Michel Temer, não fizeram nada para impedi-lo de ser acusado de lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco. Na verdade este é o homem que o mercado e alguns nas ruas brasileiras aplaudem (nota do blog: na verdade Temer seria um dos articuladores do impeachment).

Um juiz (N.B.: promotor, na verdade) no Brasil acusou Cunha de receber US$ 5 milhões em propinas na Petrobras de uma firma de lobby que trabalhava para os parceiros de construção da gigante do petróleo. Ele negou que tinha dinheiro numa conta bancária suíça. Mas autoridades suíças descobriram o dinheiro e reportaram-no às autoridades brasileiras.

Dilma pode muito bem ser um pesadelo. Mas pelo menos nenhuma corte ou investigador policial ouviu nas confissões das dúzias de homens presos na operação da Petrobras que Dilma permitiu que a entidade governamental cometesse fraude.

O que ela fez, no entanto, segundo o Tribunal de Contas, foi maquiar as contas do governo brasileiro. É nisso que Cunha decidiu apostar suas fichas. Antes que o martelo ponha fim a sua carreira política, ele decidiu arruinar a de Dilma. É isso que as pessoas estão comemorando: um teatro político que não trará nada de positivo a curto prazo. Talvez o Congresso deveria se unir para arrumar essa bagunça? Esqueça. Para que serve o Congresso além de estercar as coisas?

"Nossa reação inicial é que esse evento vai trazer mais volatilidade e incerteza, ao invés de aliviar as preocupações do mercado", diz Bruno Rovai, analista de renda fixa da Barclays em Nova York.

A habilidade de Dilma governar a essa altura já está ridiculamente baixa. Isso coloca a relação entre os poderes Executivo e Legislativo numa posição bastante prejudicial.

Vários fatores tornam longe de ser claro se o processo de impeachment será aprovado na câmara baixa do Congresso. O que ele realmente faz é adicionar mais barulho à já turbulenta agenda do governo brasileiro e aumenta a probabilidade de que mais agências de crédito, nomeadamente a Fitch e a Moodys, irão reclassificar a dívida soberana brasileira para sucata.

Manifestantes anti-PT têm pouco a comemorar.
Manifestantes anti-PT segurando efígies de Dilma em uniforme de prisão têm pouco a comemorar. No melhor cenário deles, a eleição do ano passado seria anulada e uma nova eleição provavelmente colocaria o social-democrata (PSDB) Aécio Neves no palácio presidencial com o ex-banqueiro central Armínio Fraga no comando da economia. Isso faria o mercado feliz, mas por pouco tempo. Não esqueçamos que o PSDB também teve dificuldade em gerenciar a crise da dívida brasileira no final dos anos 1990 e estava no bolso de trás do FMI. Fraga estava no Banco Central na época. A inflação superava os dois dígitos, mais do que a atual taxa de 9,5%.

Assim que a admissão do processo de impeachment for publicada, Cunha irá organizar uma comissão de investigação para verificar as alegações contidas no pedido e preparar uma petição final a ser votada no plenário da Câmara.

"Achamos muito improvável que tal petição estará pronta antes do recesso parlamentar que começa em 22 de dezembro", diz Rovai. "Se não estiver, o pedido de impeachment só poderá ser votado em fevereiro e nada garante que os desdobramentos da Lava Jato não irão mudar a configuração do Congresso, como demonstrado pela prisão do senador Delcídio Amaral na semana passada, aumentando a incerteza do processo".

Cunha pode nem sobreviver também, conforme as investigações sobre sua participação no chamado esquema Lava Jato da Petrobras estão em andamento. As coisas também não estão boas para ele. Não precisa ser gênio para entender porque ele está tão ansioso para remover Dilma de seu cargo.

Cunha dá credibilidade zero a todo o processo. Sua carreira está atualmente ameaçada por uma decisão a ser tomada pelo conselho de ética nesta quinta-feira, 8 de dezembro (N.B.: a reunião do conselho foi adiada novamente). Se o conselho decidir removê-lo de seu cargo, fica incerto se o processo de impeachment sequer obterá qualquer tração. Além disso, Cunha disse que o pedido de impeachment a ser apresentado cobrirá apenas as contas de 2015, que ainda não foram analisadas por completo pelo Tribunal de Contas e estão longe de serem aprovadas ou rejeitadas pelo Congresso, já que o ano ainda não acabou.

Por último, há o PT. O Brasil e Wall Street se esqueceram do quão indisciplinados esses caras podem ser. Eles estão no poder, atualmente, por 13 longos anos, pelo menos 8 dos quais de muito sucesso graças, em parte, a fatores externos. O PT irá recorrer de qualquer processo de impeachment até à Suprema Corte.

Em última análise, o efeito do [impeachment] nas perspectivas fiscais ainda é negativo, se ela permanecer ou for embora. Isso porque a agenda política terá muito pouco espaço para discutir e votar as medidas fiscais e de ajuste no orçamento no ano que vem graças a esse espetáculo de feira apresentado por um suspeito de fraude na câmara baixa do Congresso.

O processo de impeachment vai destruir a razão, já na sarjeta.
O processo de impeachment será longo e tornará as coisas piores para os brasileiros comuns. Vai destruir a razão, já na sarjeta. Mais incerteza não ajuda no momento. O barulho político, com Cunha, uma máquina humana de barulho, apresenta riscos descendentes para as estimativas consensuais de queda de 3,5% do PIB nesse ano e de 2,8% no ano que vem.

O Brasil está, de fato, numa depressão. Impedir Dilma não vai tirá-lo dela. Impedir Dilma a mando de um Congresso liderado por um homem que ajudou a Petrobras a perder 80% do seu valor de mercado nos últimos cinco anos não só faz com que os brasileiros pareçam bobos, mas dá ao PT e seus amigos sindicalistas razão para se intrometer caso a oposição assuma.

Cunha pediu o impeachment com a bênção de três juristas proeminentes e do PSDB. O processo marca uma derrota política fundamental para as políticas de Dilma dos últimos quatro anos. Sua taxa de aprovação está num recorde negativo de 10%, em maior parte devido ao escândalo da Petrobras e não às medidas de austeridade, em relação às quais a opinião do mercado continua confusa.

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