quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A Igreja me abandonou, Cristo não

Texto escrito para minha mãe, a pedido da mesma:


Há 7 anos, quando entrei na faculdade, tentei desvincular-me da Igreja Católica. Na época, eu ainda sustentava o peso de um pesadíssimo armário sobre minhas costas. Um peso que eu achava que deveria carregar em silêncio até o fim dos tempos. Após uma série de eventos, amadureci ao ponto de decidir jogar esse armário - e todas suas mentiras - fora. Mas eu ainda vivia o catolicismo de maneira subconsciente. Ano passado, entrei numa depressão profunda. Após um período de ódio a mim mesmo e comportamento destrutivo, redescobri Jesus. Eu não fui até ele. Ele veio até mim na forma de um texto do AlterNet exaltando que os cristãos "de bem" que vivem mandando os outros irem pra Cuba teriam odiado Jesus se fossem contemporâneos dele, um rabino subversivo condenado à crucificação por blasfêmia e por desrespeitar o status quo e as leis judaicas.

Retornei a frequentar a igreja desde então. Na primeira missa que fui, um padre jovem e com um discurso bastante interessante. No entanto, comecei a ir também na missa de quinta-feira. Outro padre jovem, mas com um discurso mais incisivo. Não tinha nada contra ele. Até hoje. Juro que me senti como se estivesse num culto evangélico, tamanha a pressão exercida pelo padre para que os fiéis fizessem o que ele mandava - no caso, protestar em defesa da "família". Ele emendou a homilia num discurso político que poderia muito bem ter saído da boca de Jair Bolsonaro, convocando os fiéis a protestarem contra a inclusão da "política de gênero" na política da secretaria municipal de educação de Goiânia. É claro que não faltaram dados suspeitos e informações equivocadas na convocação. Assim que o discurso inflamado começou, minha mãe sentiu nojo e falou para irmos embora, mas eu queria ver até onde a barbaridade de um cara que há poucos segundos estava falando de amor e perdão seria capaz de ir.

Cena da minissérie The Bible.
Depois disso eu senti nojo. Dele e de mim mesmo por permitir que eu me colocasse numa situação em que eu seria agredido sem saber. Me senti desconvidado a participar do resto da missa e, aí sim, fui embora. Afinal de contas, meu intuito ali seria destruir a "família tradicional" brasileira ou qualquer baboseira do tipo que nunca existiu a não ser na mente dos elementos mais fascistas de nossa sociedade doentia. Eu não milito, eu não levanto bandeiras, quem me conhece sabe disso. A única vez que participei da Parada LGBT foi para demonstrar apoio a meu candidato a deputado estadual. Como posso eu estar defendendo a destruição de algo se nem milito? O meu grande crime - e pecado - é me sentir atraído amorosamente por pessoas do mesmo sexo. Não digo nem sexualmente, porque há tempos isso não ocorre. Não quero mais fazer parte de uma congregação que prega o amor para, cinco minutos depois, convocar seus fiéis para protestar contra que se ensine nos colégios de Goiânia que o amor não é padronizado e que existe outras formas de amar.

Isso tudo me lembra uma passagem da Bíblia na qual Jesus critica os fariseus. "Façam tudo o que eles mandam, mas não ajam como eles agem", disse o rabino da Galileia. Por quê? Porque eles são hipócritas. Eles não praticam o que pregam. Falam de amor e não amam o próximo. Amam apenas o status quo em que estão inseridos. Querem manter seus privilégios nem mesmo que, para isso, se aliem a forças opressoras. Eu sei que nem todos na Igreja Católica são assim. Gente boa e ruim existe em todos os lugares. Cerca de 60% dos católicos dos EUA apoiam o casamento gay e o mesmo foi aprovado por referendo na Irlanda, um dos países mais tradicionalmente católicos da Europa. Mas eu me recuso a endossar essa estrutura que defende que o mero ensino de educação sexual nas escolas é agressivo. Aos que ficam, boa sorte. Quanto a mim, não se preocupem. Já aceito Cristo. Agora quero aceitar uma igreja que me aceite. Pois eu sou o amor.

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