sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ser gay é moda?

Um certo pastor-deputado (qual? tem tantos!) disse que a homossexualidade é uma moda. Bom, vamos aos fatos. Há registros históricos de práticas homossexuais em quase todas as sociedades humanas, da Grécia Antiga ao cristianismo primitivo, da Roma Antiga à Europa Medieval, do Império Inca ao Egito Antigo. Pinturas rupestres do período mesolítico (de 10.000 a 5.000 anos antes de Cristo) encontradas na Sicília mostram homens fazendo sexo. Essas evidências, por si só, comprovam que a "moda" da homossexualidade é tão antiga quanto à própria existência humana. Vamos, então, nos focar na história recente da homossexualidade, já que aqui entram variáveis como o fato dessas sociedades não serem cristãs, não serem "desenvolvidas" ou "evoluídas" o suficiente (Embora os filósofos gregos estejam anos-luz de distância de alguns pretensos filósofos brasileiros).

Stonewall Inn, onde tudo começou.

O comportamento homossexual chamou a atenção – e posteriormente a aceitação – da mídia e da sociedade ocidental após a revolta do Stonewall Inn, um bar gay localizado no bairro boêmio de Greenwich Village na Cidade de Nova York. Em 28 de junho de 1969, oficiais do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) realizaram uma batida no local e, pela primeira vez, os membros da comunidade homo e transsexual que ali se reuniam resistiram à agressão. Foi nesse momento que nasceu o movimento LGBT moderno. Um ano depois, na mesma data, ocorreu a Primeira Parada do Orgulho Gay da história do planeta naquela mesma cidade. As leis anti-sodomia impostas pelos dominadores britânicos começaram a ser derrubadas nos parlamentos estaduais até a Suprema Corte abolir todas elas em 2003 ao analisar o caso de um casal gay que foi arbitrariamente preso enquanto fazia sexo dentro de sua casa no Texas.

Desde a revolta de Stonewall – que deve chegar aos cinemas no final desse ano – são quarenta e seis anos de movimento e luta LGBT. Mais do que a idade do referido pastor-deputado. Modas duram, no máximo, três anos. Tomemos como exemplo a lambada, ritmo criado no final da década de 1980 por produtores franceses que misturava o carimbó paraense com a música pop. Eles lançaram o grupo Kaoma, liderado pela cantora brasileira Loalwa Braz, que estourou em todo o mundo. A primeira música lançada pelo grupo, "Chorando Se Foi", vendeu cinco milhões de cópias em 1989, atingiu o topo da parada em onze países e o top 5 no Reino Unido, na Irlanda e na Austrália. O grupo cantou no Top of the Pops da BBC e no show de virada do ano da CBS. O sucesso da música levou artistas como Fafá de Belém, Xuxa e Elba Ramalho a gravarem suas próprias versões. Foram lançados dois filmes norte-americanos que tinham o ritmo como pano de fundo, além de um brasileiros protagonizado por Elba e Carlinhos de Jesus. Em 1992, ninguém mais se lembrava da lambada e o grupo sumiu.

O mesmo aconteceu com o chá-chá-chá, o twist, a bossa nova, o ié-ié-ié, a música psicodélica, a música disco, o new wave e a macarena. Há algum artista famoso que ouse gravar algum desses ritmos nos dias de hoje? No máximo fazem tributos ou homenagens, como foi o caso de Jennifer Lopez, que incluiu alguns acordes de "Chorando Se Foi" em seu hit mundial "On the Floor". Se a homossexualidade fosse uma "moda", como quer o pastor-deputado, todo mundo já teria esquecido-a e em 1975 ela seria apenas uma lembrança distante, um sonho de utopia, assim como o movimento hippie, que pareceu que iria revolucionar a América e desde os anos 1980 não passa de uma nostalgia. Acontece que a homossexualidade não é uma moda, tanto que as principais associações de saúde mental do mundo reconhecem hoje que ela não é uma "fase" que passa, e sim um traço genético, como a ambidestria ou a presença de covinhas nas bochechas. O fato é que a homossexualidade predata até mesmo a religião usada por esse deputado para condená-la e, assim sendo, deveria ser respeitada por ele e seus eleitores.

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