terça-feira, 4 de agosto de 2015

Madalena


"Não foi ela que com um beijo traiçoeiro seu Salvador picou
Não foi ela que negou ele com sua língua ímpia
Ela, enquanto os apóstolos sumiam, enfrentou os perigos
Última na Sua cruz, e primeira no Seu túmulo."
- Eaton S. Barrett

A Igreja cristã tem muitos pais. Mas tem apenas uma mãe. Maria de Magdala abdicou de uma vida abastada numa das cidades mais prósperas de Israel para seguir e patrocinar o humilde carpinteiro Jesus. Após a crucificação, ela ajudou a espalhar as boas novas de Cristo pelo mundo, embora seu destino exato seja desconhecido. Há quem afirme que ela teria evangelizado na França. Para outros, ela teria ido para o Éfeso. Segundo a narrativa bíblica, Maria de Magdala foi uma das poucas seguidoras de Jesus presentes na via-crúcis, tamanha sua devoção a ele. Teria sido ela uma das descobridoras de seu túmulo vazio na Páscoa, assim como a primeira pessoa a presenciar o Cristo ressuscitado.

Ela.

A devoção incondicional de Maria de Magdala a Jesus, que intrigou autores durante séculos e inspirou as mais diversas obras de ficção, se deve ao fato de que ele a libertou de sete demônios. (Sete é um número de grande importância para a cabala, o misticismo judaico. Sete são os pecados capitais e também as dádivas de Deus. Indica, nesse caso, a completude do problema sofrido por Maria). Ela era uma alma perturbada e Jesus, através de seu amor incondicional por todos sem exceção, acolheu-a e mostrou-lhe que mesmo as pessoas em conflito com sua própria sanidade mental podem e devem ter o direito de participar da ceia do Senhor. Sua gratitude para com Jesus se demonstrou através de ações que por vezes superaram até mesmo as de Pedro. Quando Cristo libertou Maria, ele libertou a fortaleza, a coragem e o sacrifício que estavam escondidos dentro dela.

No catolicismo romano, é comum dizer que se é devoto de algum santo. No catolicismo anglicano, há um calendário hagiográfico, no entanto, a devoção não é nem incentivada nem desaconselhada. Fica a critério de cada fiel decidir. Dito isso, identifico-me como devoto de Santa Maria Madalena. Jesus, ao me reencontrar, encontrou uma pessoa cujo senso e razão estavam perturbadas. Uma pessoa que queria ser boa, mas simplesmente não conseguia. Exatamente como Maria de Magdala, talvez sua maior seguidora. Enquanto Pedro negava Jesus, Maria seguia-o na via-crúcis, acompanhava seu suspiro final, providenciava seu enterro e presenciava sua ressurreição. É, depois da Virgem, a mulher mais importante do Novo Testamento.

Você talvez conheça Maria Madalena como uma prostituta reformada. No entanto, não há um pingo de evidência genuína nas Escrituras para essa lenda do misticismo católico. A Bíblia apresenta Maria como uma mulher pura, embora atormentada, antes de conhecer Jesus. Afirmar que ela era uma prostituta contribui na estigmatização das pessoas que têm algum tipo de problema psicológico. É afirmar que uma pessoa privada de suas capacidades mentais é depravada - e, pior de tudo, por escolha. Se eu pudesse, não escolheria ter uma condição que me estigmatiza e me torna um pária da sociedade. Mas assim como Maria de Magdala, encontrei a aceitação que a sociedade me nega no amor incondicional de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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