quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Como a Alemanha apresenta a diversidade sexual para crianças

Conforme relatei em post anterior, saí da Igreja Católica há algumas semanas devido à sua oposição ao debate sobre a igualdade de gênero e a diversidade sexual nas escolas da rede pública. Os setores conservadores da Igreja, que infelizmente são aqueles que estão no poder aqui em Goiás, se aliaram às piores seitas pentecostais do Brasil para rechaçar uma educação que abrace a diversidade humana. Os mesmos que torcem o nariz para os professores que ensinam a história da religiosidade africana para seus alunos, agora não querem que os brasileirinhos e brasileirinhas saibam que existem homo, bi e transexuais. A escola não deve ser um espelho do cotidiano dos brasileiros, e sim do cotidiano de bispos e pastores: homens, brancos, heterossexuais, cristãos e de classe média. Só esse mundo é o que pode ser apresentado e discutido pelos professores. Que a Igreja Católica defenda isso é uma afronta à memória de dom Fernando Gomes, o primeiro arcebispo de Goiânia, que promoveu a reforma agrária nas terras da Igreja e era um defensor intransigente da liberdade de expressão, ao ponto de oferecer abrigo a estudantes perseguidos pela polícia dentro da Catedral Metropolitana em plena ditadura militar. E não só à memória dele: Padre Burnier, martirizado ao tentar interceder por duas mulheres que eram torturadas por agentes do regime e Dom Tomás Balduíno, defensor dos índios e sem-terra.

Se a Igreja goiana deseja evangelizar apenas para indivíduos brancos, heterossexuais e de classe média e alta, que evangelize. Mas eu não tenho o mínimo interesse em fazer parte dessa comunidade. Quando eu morava no armário poderia até ser. Mas eu aprendi a me amar por aquilo que eu sou. E a amar as pessoas por aquilo que elas são. Entendo que somos todos criações únicas de um Deus que é amor e que enviou seu único filho ao nosso mundo para nos ensinar sobre amor, compreensão e respeito às diferenças. Há quem entenda isso. "Quem sou eu para julgar?", disse o Papa Francisco ao ser indagado sobre os homossexuais que frequentam a missa. Faltou combinar com seus subordinados da Arquidiocese de Goiânia. Na missa que me motivou a sair de uma vez por todas da Igreja, o padre apresentou, em sua homilia, um desfile de ideias do senso comum que encontramos nas páginas conservadoras do Facebook. O embasamento científico para a formulação do currículo escolar agora vem de postagens numa rede social. Segundo ele, a Alemanha é o país que mais duramente promove a "doutrinação" homossexual. Curiosamente, me deparei ontem com um livro de educação infantil alemão que trata do tema homossexualidade e está no mercado há duas décadas. Não vi doutrinação. Vi, pelo contrário, um texto ensinando às crianças que todos devem ser aceitos, independente de suas características pessoais. Que é exatamente a mensagem do Evangelho que esse padre e sua Igreja diz professar.

Tirem suas próprias conclusões e me digam se isso é ou não é a melhor forma de apresentar a questão da homossexualidade às crianças:

"Doutrinação" homossexual. Segundo setores da linha dura da Igreja Católica, textos como esse não podem ser apresentados nas escolas brasileiras porque estimulam as crianças a serem homossexuais. Talvez alguma dessas frases em alemão diz: "Ser gay é divertido, venha ser um você também!". Fonte da imagem: Correio Alternativo.

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