sexta-feira, 30 de outubro de 2015

20 canções para celebrar a emancipação feminina (Parte I)

Ainda no rescaldo da falsa polêmica do ENEM desse ano, aproveitei para fazer uma compilação daquelas que considero as melhores músicas que têm como tema a emancipação feminina. Assim como a vida imita a arte, a expressão artística por vezes surge para dar voz às aspirações de determinados grupos da sociedade. Quando o movimento pela emancipação das mulheres começou a ganhar força na segunda metade do século passado, a música passou a ser um importante canal de expressão através dos quais as mulheres faziam ser ouvidas suas demandas à outra metade da população mundial, que lhe negava direitos básicos como estudar, votar e ser votada, dirigir, trabalhar, sair de casa sozinha e ser dona de seu próprio negócio, dinheiro e imóveis. Até determinado período, as mulheres solteiras não podiam comprar imóveis ou trabalhar como professoras - a única função que o Estado permitia que as mulheres exercessem. Desde então, entre avanços e retrocessos¹, avançamos muito na garantia de direitos às mulheres. Eis algumas músicas que embalaram ativistas dos direitos das mulheres nos últimos 50 anos:


1° - "You Don't Own Me" (1963), Lesley Gore
No mesmo ano em que Betty Friedan lançou A Mística Feminina, a intérprete nova-iorquina de 17 anos Lesley Goldstein (cujo sobrenome foi alterado devido ao antissemitismo ainda forte na sociedade estadunidense) lançou a canção que se tornaria o hino dos primeiros anos do feminismo de segunda onda. No obituário da cantora, falecida no início desse ano, o New York Times se referiu à canção como "indelevelmente desafiadora". Não é para menos, pois Lesley começara sua carreira um ano antes cantando canções tolas sobre ter perdido o namorado para outra e como faria para se vingar da rival. Em "You Don't Own Me" ("você não é meu dono"), ela demonstrou uma força até então jamais imaginada tanto para uma cantora como ela quanto para o sexo feminino em geral. Quando ela atinge as notas mais altas, é como se toda a dor e o sofrimento que ela passou por ser mulher e lésbica (o que só foi revelado décadas mais tarde, em 2005, quando ela já havia caído no ostracismo) viesse à tona. Sua carreira logo desandou e ela passou a fazer pontas em seriados de TV, shows para públicos cada vez menores e a compor para outros artistas. Sua belíssima "Out Here On My Own", escrita para o filme Fama (1980), foi indicada ao Oscar de melhor canção original. De qualquer forma, "You Don't Own Me" permaneceu na memória do público, sendo usada na trilha-sonora do filme Clube das Desquitadas (1996) e num anúncio contra as investidas dos republicanos a clínicas de aborto nos Estados Unidos.


Letra:
Você não é o meu dono, não sou seu brinquedinho
Você não é o meu dono, não diga que não posso sair com outros garotos
Não me diga o que fazer, não me diga o que dizer
E, por favor, quando eu sair com você não me exiba
Porque você não é meu dono
Não tente me mudar de maneira alguma
Se me amarrar, eu nunca vou ficar

Não me diga o que fazer, não me diga o que dizer
E, por favor, quando eu sair com você não me exiba
Eu não te digo o que dizer, eu não te digo o que fazer
Apenas me deixe ser eu mesma
É tudo o que peço de você

Sou jovem e amo ser jovem
Sou livre e amo ser livre
Viver minha vida do jeito que eu quero
Dizer e fazer o que me agrada


2° - "I Am Woman" (1971), Helen Reddy
Confesso que fiquei na dúvida entre colocar essa como a primeira ou segunda colocada na lista pois, diferentemente de "You Don't Own Me", "I Am Woman" ("eu sou mulher") foi escrita pela mesma mulher que a interpreta. O primeiro lugar dessa lista foi escrito por dois homens, John Madara e David White, mas não creio que isso me impeça de colocar a canção em primeiro lugar, pois ela foi escrita para e interpretada por uma mulher, que inclusive atribui à canção seu despertar para a militância feminista. Ademais, "I Am Woman" surgiu quando o movimento feminista de segunda onda já estava no seu auge e a Organização Nacional das Mulheres de Betty Friedan já era uma entidade bem-estabelecida e respeitada. A canção, cujo compacto vendeu um milhão de cópias somente nos Estados Unidos e atingiu o topo da parada de sucessos da revista Billboard, fala mais diretamente com o público do que "You Don't Own Me" (que mais parece uma discussão de namorados) e é um verdadeiro apelo aos homens que discriminam as mulheres e à sororidade - a união das mulheres que reconhecem que seus problemas são semelhantes e que, para superá-los, precisam agir de maneira conjunta. Sua intérprete, a australiana Reddy, embora tenha tido outros sucessos, atribui sua fortuna ao poema feminista que escreveu e mais tarde musicou.


Letra:
Eu sou mulher, ouça-nos rugir
Em números grandes demais para serem ignorados
Eu sei demais para retornar e fingir
Porque eu já ouvi de tudo antes
E eu estive lá em baixo no chão
Ninguém nunca vai me manter lá em baixo de novo

Ah sim, eu sou sábia
Mas é sabedoria nascida da dor
Sim, eu paguei o preço
Mas veja o quanto eu ganhei
Se eu precisar, eu posso fazer qualquer coisa
Eu sou forte
Eu sou invencível
Eu sou mulher

Você pode me curvar, mas nunca me quebrar
Porque isso só serve para me tornar
Mais determinada a alcançar o meu objetivo final
E eu volto ainda mais forte
Não sou mais uma noviça
Porque você aprofundou a convicção da minha alma

Eu sou mulher, veja-me crescer
Veja-me ficar de pé, cara-a-cara
Enquanto abro meus braços amorosos pela terra
Mas eu ainda sou um embrião
Com um longo caminho a percorrer
Até eu fazer meu irmão compreender


3° - "I Will Survive"(1978), Gloria Gaynor
Assim como "I Am Woman", "I Will Survive" ("eu vou sobreviver") atingiu a primeira posição na parada da revista Billboard e vendeu um milhão de cópias nos Estados Unidos. No entanto, sua sonoridade é muito diferente da segunda colocada na lista. Trata-se de um dos hinos da alegre e dançante disco music, interpretado de forma magistral por Gloria Gaynor. Devido à grande identificação desse estilo musical com o público gay, a cantora se tornaria, com o declínio da disco (motivada por uma campanha racista e homofóbica), uma espécie de madrinha do movimento LGBT, regravando mais tarde "I Am What I Am", hino a favor da aceitação dos homossexuais, presente na trilha-sonora do musical da Broadway A Gaiola das Loucas. Apesar de sua identificação posterior com o movimento LGBT, inicialmente "I Will Survive" foi um hino feminista. Assim como "You Don't Own Me", sua letra trata-se de um diálogo: uma mulher avisa ao ex-namorado que superou o medo de ficar sozinha, descobriu o amor-próprio e que agora não o aceitará mais de volta. Embora hajam canções belíssimas sobre mulheres que morrem por um amor, é bastante positivo que existam canções que demonstrem que nem todas as mulheres são assim. A força e a perseverança feminina devem ser exaltadas sempre!


Letra:
No início eu tive medo, fiquei paralisada
Continuava achando que nunca conseguiria viver
Sem você ao meu lado
Mas então eu passei muitas noites
Pensando em como você me fez mal
E eu me fortaleci e aprendi a me virar

E agora você voltou do espaço sideral
Acabei de entrar e te encontrei aqui
Com aquela aparência triste no rosto
Eu devia ter mudado aquela fechadura estúpida
Eu devia ter feito você deixar sua chave
Se eu soubesse, apenas por um segundo
Que você voltaria para me incomodar

Vá agora, saia pela porta!
Apenas dê meia-volta, pois você não é mais bem-vindo
Não foi você quem tentou me magoar com o adeus?
Você achou que eu me desintegraria em pedaços?
Você pensou que eu deitaria e morreria?
Oh não, eu não, eu vou sobreviver
Enquanto eu souber como amar
Eu sei que permanecerei viva
Eu tenho toda minha vida para viver
Eu tenho todo meu amor para dar e
Eu vou sobreviver, eu vou sobreviver

Foi preciso toda a força que eu tinha para não cair em pedaços
E tentei duramente remendar os fragmentos do meu coração partido
E eu passei muitas noites sentindo pena de mim mesma
Eu costumava chorar, mas agora mantenho minha cabeça erguida
E você me veja como uma pessoa nova
Não sou aquela pessoa insignificante, acorrentada, ainda apaixonada por você
E então você tem vontade de fazer uma visita
E simplesmente espera que eu esteja livre?
Agora estou guardando todo meu amor
Para alguém que está me amando


4° - "Respect" (1967), Aretha Franklin
"Respect" ("respeito") talvez seja o hino mais incidental de toda a lista. A canção foi escrita por Otis Redding e originalmente gravada e lançada pelo mesmo sem atingir grande sucesso comercial. Tratava-se de uma canção cuja letra trazia o personagem de um marido exigindo da esposa que lhe tratasse com respeito e fidelidade, pois ele ficava o dia inteiro fora de casa, trabalhando. Aretha Franklin regravou a música e logo os papéis se inverteram, o que criou um dos primeiros hinos feministas da história da música pop. Ainda hoje, "Respect" é a canção mais identificada com a rainha do soul, sendo que Aretha demorou exatos 20 anos para conseguir outro número um na parada de sucessos da revista Billboard ("I Knew You Were Waiting", dueto com o cantor britânico George Michael). Além de ter se tornado um ícone do feminismo, "Respect" tornou-se ainda um hino do movimento negro, recém-liberto das amarras da segregação racial, ajudando a promover o diálogo entre os dois movimentos e dando visibilidade ao feminismo negro, que muitas vezes luta por questões completamente diferentes do feminismo branco, visto que os problemas enfrentados pelas mulheres negras nem sempre são os mesmos das brancas.


Letra:
O que você quer
Querido, eu tenho
O que você precisa
Você sabia que eu tenho?
Tudo que estou pedindo
É um pouco de respeito quando você vier pra casa
Ei, meu bem (só um pouquinho) quando chegar em casa
(Só um pouquinho) senhor (só um pouquinho)

Eu não vou lhe fazer mal enquanto você estiver fora
Eu não vou lhe fazer mal porque eu não quero
Tudo que estou pedindo
É um pouco de respeito quando você vier pra casa (só um pouquinho)
Querido (só um pouquinho) quando você chegar em casa (só um pouquinho)
Sim (só um pouquinho)

Eu estou prestes a te dar todo o meu dinheiro
E tudo o que eu estou pedindo em troco, docinho
É que você me dê o que é meu por direito
Quando você chegar em casa

Oh, seus beijos
São mais doces que mel
E advinha só?
Meu dinheiro também é
Tudo que eu quero que você faça por mim
É dar respeito pra mim quando você chegar em casa
É, querido
Dê pra mim (respeito, só um pouquinho)
Quando você chegar em casa (só um pouquinho)


5° - "Olho por Olho" (1977), Beth Carvalho
Foi difícil escolher as canções nacionais que entrariam na lista. Primeiro, porque não sou grande conhecedor da música popular brasileira. Segundo, porque infelizmente são poucas as canções brasileiras que me marcaram enquanto ícones da busca pela igualdade de gênero. De qualquer forma, eu sabia que este samba não poderia faltar na lista. Esse gênero musical produziu um dos retratos mais grotescos e retrógradas de como uma mulher deve ser: a famigerada "Amélia", escrita por Mário Lago nos anos 1940. (Mais sobre ela no número 17 dessa lista). A partir dos anos 1970, entretanto, o chamado ABC do Samba (Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes) abriu as portas para que as mulheres também passassem a interpretar canções desse gênero musical, mudando a forma como seus compositores encaravam o sexo oposto. Em "Olho por Olho", canção lançada no Fantástico em 4 de dezembro de 1977, Beth Carvalho ameça o parceiro: se me trair, será traído de volta. Talvez num mundo ideal as coisas seriam simples assim. No Brasil atual as mulheres ainda são tolhidas de sua liberdade sexual. Ainda é mais comum do que eu gostaria que fosse o número de casos de mulheres mortas por ex-companheiros ciumentos. Os chamados crimes "passionais" que de paixão nada têm.



6° - "I Don't Need a Man"(2005), Pussycat Dolls
Eu adoro essa música, porque ela veio do grupo mais inesperado possível. As Pussycat Dolls surgiram como um grupo de dança burlesca em Los Angeles que mais tarde evoluiu para a música. Seu primeiro sucesso foi "Don't Cha", canção do mesmo álbum que "I Don't Need a Man" ("não preciso de um homem"), que trazia letra, videoclipe e danças super erotizadas. Outros sucessos do grupo, como "Buttons" e "Wait a Minute", seguiram a mesma linha. Numa crítica de "I Don't Need a Man", a revista People afirmou que o grupo que se auto-objetifica mudou de lado para declarar sua independência dos homens. Co-escrita pela vocalista  Nicole Scherzinger, "I Don't Need a Man" foi lançada somente na Europa, atingindo um sucesso moderado na região. Ao contrário das demais canções do grupo, que não possuía muita independência artística da empresária Robin Antin, criadora do grupo de dança, esta com certeza passou um recado muito positivo para aqueles que, assim como eu, eram adolescentes em meados da década de 2000.


Letra:
Vejo você me olhando
Como se eu tivesse algo para você
E o jeito que você me encara
Não se atreva
Porque eu não estou prestes a
Simplesmente dar tudo isso aqui para você
Pois têm algumas coisas que eu não vou fazer
E não tenho medo de lhe falar
Eu não quero te deixar confuso

Quanto mais você tenta
Menos eu acredito
E eu não tenho que pensar nisso direito
Você sabe se estou na sua

Não preciso de um homem para fazer acontecer
Eu sinto prazer em ser livre
Não preciso de um homem para que eu me sinta bem
Eu me satisfaço fazendo as coisas do meu jeito
Não preciso de uma aliança no dedo
Para que eu me sinta completa
Então deixe-me terminar com isso
Eu posso sair quando você não está por perto

Você sabe que eu tenho minha própria vida
Eu comprei tudo que está nela
Então, se quiser ficar comigo
Nem tudo é sobre o que você está trazendo
Quero amor que seja pra valer
E, sem isso, nada feito
E querido não quero uma mão
Se ela só quer agarrar uma coisa

Não preciso de um homem para enfrentar a vida
Porque estou indo bem, me sinto nova em folha
Não preciso de um homem para enfrentar a vida
Porque estou indo bem sem você!


7° - "Can't Hold Us Down" (2002), Christina Aguilera & Lil' Kim
Quando lançou o álbum Stripped em 2002, Christina Aguilera se tornou o alvo de diversas críticas sexistas. No primeiro single do disco, "Dirrty", a cantora tentou, sem sucesso, explorar um lado mais sensual de sua personalidade, o que rendeu críticas e, obviamente, comparações com Britney Spears, que a mídia elegera como sua rival. A resposta aos críticos veio na forma de "Can't Hold Us Down" ("não vão nos humilhar"), do mesmo álbum e lançada na metade de 2003. Apesar de ter sido mais bem sucedida do que "Dirrty", a canção conseguiu atingir apenas um sucesso moderado nos Estados Unidos, tendo atingido desempenho melhor no mercado internacional. Na canção, a cantora critica a sociedade por não aplicar aos homens os mesmos pré-conceitos que utiliza para julgar as mulheres ("o cara fica com toda a glória se for rodado, enquanto a garota que fizer o mesmo você chama de puta"). No livro Theurapeutic Uses of Rap and Hip-Hop, os autores Susan Headly e George Yancy discutem o impacto potencialmente positivo da canção junto às garotas, afirmado que ela "incentiva as jovens a terem orgulho, força e empoderamento para serem o que quiserem". Amém!


Letra:
Então eu não tenho direito a ter uma opinião?
Devo ficar calada só porque sou uma mulher?
Me chamam de vadia porque falo o que penso
Seria mais fácil me engolir se eu sentasse e sorrisse

Quando uma mulher contra-ataca
De repente o falador não sabe como agir
Então ele faz o que qualquer moleque faria
Inventa um boato qualquer

Isso pra mim com certeza não é um homem
Difamando nomes para ficar famoso
É triste ganhar fama à custa de polêmicas
Mas agora vou lhe dar motivo para falar

Esta vai para as minhas garotas do mundo todo
Que cruzaram com homens que não lhes dão valor
Que acham que mulher deve ser vista e não ouvida
O que fazemos, garotas?
Gritamos alto!
Para deixar claro que vamos bater o pé
Levantem as mãos e acenem com orgulho
Respirem fundo e falem bem alto:
Vocês nunca vão nos humilhar

Então não devo dizer o que estou dizendo?
Minha mensagem o ofendeu?
Me chame do que quiser, suas palavras não me atingem
Você não é homem nem para lidar com o que canto

Se você analisar a História
Vai ver que isso é um preconceito comum na sociedade
O cara fica com toda a glória se for rodado,
Enquanto a garota que fizer o mesmo você chama de puta
Eu não entendo por que é aceito
Que o cara se safe e a garota fique falada
Mulheres, unam-se e mudem isso
Vamos começar de novo, todas cantando

Esta vai para as minhas garotas do mundo todo
Que cruzaram com homens que não lhes dão valor
Que acham que mulher deve ser vista e não ouvida
O que fazemos, garotas?
Gritamos alto!
Para deixar claro que vamos bater o pé
Levantem as mãos e acenem com orgulho
Respirem fundo e falem bem alto:
Vocês nunca vão nos humilhar

[Lil' Kim]
Eis uma coisa que eu não entendo
Se o homem tem três mulheres, ele é o cara
Ele pode até nos lamber
Se uma garota faz isso, ela é uma puta
Mas a mesa vai virar,
Aposto minha fama nisso
Canalhas roubam minhas idéias na cara de pau
Mas tudo bem, ninguém me põe pra baixo
Preciso continuar me mexendo
Para todas as garotas que os caras querem enrolar
Enrolem-no de volta e pronto
Digam na cara que ele não está com nada
E que Lil' Kim e Christina Aguilera estão com vocês

Você é só um moleque
Se acha tão bonito e recatado
Precisa falar alto
Para compensar o que tem de pequeno
Você é só um moleque
E só faz irritar
Precisa falar alto
Para compensar o que tem de pequeno


8° - "Run the World (Girls)" (2011), Beyoncé
Beyoncé tem várias canções que poderiam entrar nessa lista. Praticamente todo álbum que ela lança desde a época em que era vocalista do grupo Destiny's Child tem alguma música que levanta a bandeira do empoderamento feminino. No entanto, nenhuma é tão marcante para mim quando "Run the World (Girls)", de seu quarto álbum de estúdio, lançado em 2011. Sua letra pode não ser tão sofisticada quando a de "Listen", outra canção sobre empoderamento da mesma cantora, que foi indicada ao Oscar de melhor canção original em 2007 (é da trilha-sonora do filme Dreamgirls), mas às vezes é justamente a simplicidade que conta. Passar uma mensagem importante de forma rápida e divertida pode ser mais eficiente do que fazer discursos longos, quando se corre o risco de se perder no meio da mensagem que se deseja passar para seu público. Beyoncé, que tratar a questão do empoderamento feminino de ambas as formas e com maestria invejável, construiu para si a imagem de cantora mais identificada com o atual estágio do movimento feminista. Quem me dera se sua pupila Anitta seguisse seus passos e parasse de reforçar o machismo na televisão!


Letra:
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!

Alguns daqueles homens pensam que detonam isso
Como nós
Mas não, eles não detonam
Joguem seu dinheiro na cara deles
Nos desrespeitar?
Não, eles não irão

Garoto, nem tente tocar nisso
Garoto, essa batida é louca
Foi assim que eles me criaram
Em Houston, Texas, querido

Essa vai para todas as minhas garotas
Que estão no clube curtindo a última novidade
Que pagam suas compras
E ganham mais dinheiro depois

Eu acho que preciso de uma folga
Nenhum desses manos conseguem me derrotar
Eu sou tão boa nisso
Vou te lembrar como sou esperta

Garoto, estou apenas brincando
Venha aqui, querido
Espero que você ainda goste de mim
Se me odiar

Minha persuasão
Pode construir uma nação
Poder infinito
Com nosso amor podemos devorar

Você vai fazer qualquer coisa para mim

Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!

Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!

Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!

O clima está fervendo aqui DJ
Não tenha medo de tocar essa, tocar essa de volta
Estou falando em nome das garotas
Que já dominaram o mundo
Deixe-me fazer um brinde
Para as universitárias graduadas

Amigo, uma rodada e
Eu te deixo saber que horas são, veja
Você não pode me deter
Eu trabalho o dia todo, melhor ir pegar meu cheque

Essa vai para todas as mulheres
Que estão conseguindo
Alcançando seus objetivos
Para todos os homens que respeitam
O que eu faço
Por favor, aceite meu brilho

Garoto você sabe que adora
O quanto somos espertas o bastante para ganhar milhões
Forte o suficiente para lidar com as crianças
E depois voltar aos negócios

Veja, é melhor não brincar comigo
Oh, venha aqui querido
Espero que você ainda goste de mim
Se me odiar

Minha persuasão
Pode construir uma nação
Poder infinito
Com nosso amor podemos devorar

Você vai fazer qualquer coisa para mim

Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!

Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!
Quem manda nesta mer**? Garotas!

Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!
Quem manda no mundo? Garotas!

Quem somos nós?
No que nós mandamos?
No mundo


9° - "Maria da Penha" (2007), Alcione
É impossível pensar em empoderamento feminino e ignorar o avanço que representou a Lei Maria da Penha. Pano rápido: Maria da Penha foi uma professora universitária que foi baleada pelo companheiro, o que a deixou paraplégica. Ela tentou fazer com que ele fosse preso pelo crime, mas não conseguiu pois, à época, o Estado brasileiro não reconhecia a violência doméstica como crime agravado, o que possibilitava que os agressores firmassem um termo circunstanciado de ocorrência e sequer passassem a noite na delegacia pelo crime que cometiam. Ela processou o Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos e venceu. O Brasil foi obrigado pelo organismo internacional a criar uma legislação que coibisse e punisse mais severamente a prática de violência doméstica contra a mulher. Infelizmente ainda é algo muito comum em nosso país, acometendo mulheres de todas as classes sociais e idades, mas agora as vítimas se sentem mais protegidas ao denunciar seus agressores, sabendo que eles não poderão ficar livres através do pagamento de cestas básicas. Quando gravou esse samba, em 2007, Alcione visou estimular as denúncias de mulheres contra seus agressores.



10° - "You Keep Me Hangin' On" (1966 / 1986), The Supremes / Kim Wilde
"You Keep Me Hangin' On" ("você continua me prendendo") é uma canção que foi originalmente composta pelo trio de compositores da Motown Records, Holland-Dozier-Holland, para o grupo The Supremes. Vinte anos depois, a cantora britânica Kim Wilde lançou sua própria versão da canção. Ambas as versões atingiram o primeiro lugar da parada de sucessos da revista Billboard, sendo essa uma das poucas canções que foram número um na voz de dois artistas diferentes. A versão de Wilde mudou toda a estrutura de "You Keep Me Hangin' On", embora a letra permaneça a mesma. Trata-se de uma canção bastante característica de sua época, quando estava no auge o feminismo de segunda onda; assim como as já mencionadas "Respect" e "You Don't Own Me", trata-se de um diálogo entre uma namorada e um namorado, onde a protagonista se refere ao fato de ter conseguido ficar livre do comportamento abusivo do parceiro como uma libertação. Se no atual estágio do feminismo falamos mais em "empoderamento", naquela época a palavra-chave de quem lutava pela igualdade dos sexos era "libertação".


Letra:
Por que você não me liberta, querido?
Por que você não sai da minha vida, querido?
Porque você não me ama de verdade
Você continua apenas me prendendo

Por que você não me liberta, querido?
Por que você não sai da minha vida, querido?
Porque você não precisa de mim de verdade
Você continua apenas me prendendo

Por que você continua voltando,
Brincando com meu coração?
Por que você não sai da minha vida
E me deixa tentar um recomeço?
Deixe-me te esquecer
Da forma que você tem me esquecido

Por que você não me liberta, querido?
Por que você não sai da minha vida, querido?
Porque você não me ama de verdade
Você continua apenas me prendendo
Não, você não precisa de mim de verdade
Você continua apenas me prendendo

Você diz que embora tenhamos nos separado
Você ainda quer ser apenas amigos
Mas como podemos ser apenas amigos
Se ver você só partirá meu coração de novo?
(E não há nada que eu possa fazer a respeito disso)

Saia, saia da minha vida
E me deixe dormir a noite
Porque você não me ama de verdade
Você continua apenas me prendendo

Você diz que ainda se importa comigo
Mas seu coração e alma precisam ser livres
Agora que você tem a sua liberdade
Você ainda quer agarrar-se a mim
Você não me quer para si mesmo
Então deixe-me encontrar alguém

Porque você não vira homem
E me liberta?
Você não se importa nada comigo
Você está somente me usando, me usando
Saia, saia da minha vida
E me deixe dormir a noite
Porque você não me ama de verdade
Você continua apenas me prendendo


¹ Sem sombra de dúvida o maior retrocesso dos últimos tempos foi a aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados de um projeto de lei de Eduardo Cunha que dificulta o acesso de vítimas de estupro à pílula do dia seguinte. O estupro deixa de ser encarado como um problema de saúde pública para ser observado sob o viés da religião, o que prejudica as mulheres como um todo, crentes e não-crentes. 

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