quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Para onde vão os refugiados?

Qualquer cidadão desavisado, que se informa apenas pela mídia comercial, pode pensar que maioria dos refugiados oriundos de países em conflito estão fugindo para a Europa. É comum, inclusive, ouvir das vozes propagadoras do senso comum o discurso de que os países vizinhos aos conflitos na Síria e no Iraque não oferecem ajuda aos refugiados. Enquanto isso pode ser verdade para a Arábia Saudita - monarquia ultra-sunita apoiada pelos Estados Unidos e cuja elite apoia e investe pesado no Estado Islâmico anti-xiita -, não se aplica aos demais países da região.

Uma reportagem da National Public Radio evidencia isso. Enquanto parte dos refugiados perdeu as esperanças e pensa ser inútil continuar na região, por não avistarem um fim próximo do conflito, outra parte sonha com o fim das batalhas, quando poderão retornar para suas casas. Tanto é verdade que a maioria busca refúgio em países vizinhos às suas pátrias devastadas pelos conflitos militares. Muitas vezes, o local de origem dos refugiados e o local para onde eles fugiram fazem até divisa. Entre os refugiados sírios, por exemplo, apenas 10 a 15% foram para a Europa.

Principais destinos dos refugiados.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), o número de refugiados atingiu a marca de 60 milhões de pessoas nesse ano, o maior desde o final da Segunda Guerra Mundial. Desse total, 5,25 milhões de refugiados saem da Palestina, 3,96 milhões da Síria, 2,68 milhões do Afeganistão, 1,32 milhão do Sudão ou do Sudão do Sul e 1,16 milhão da Somália. Ainda segundo a agência, nenhum país europeu estava entre os dez destinos mais procurados pelos refugiados na primeira metade do ano.

Dentre os países da Europa, destaca-se o apoio que a Alemanha vem dando aos refugiados. No início do ano, o país recebeu 440 mil refugiados, ficando na décima-terceira posição entre as nações mais procuradas pelos refugiados, pouco atrás do Chade na África Central. No entanto, a mídia comercial não se refere a uma suposta "crise de imigração" no Chade. Quando os refugiados são de países pobres e estão indo para outros países pobres, não há crise. No entanto, quando eles ousam atravessar o Estreito de Bósforo, marca indelével entre o progresso e o subdesenvolvimento, tornam-se um problema.

Países de origem dos refugiados.

A postura do governo alemão realmente é notável se considerarmos o conjunto dos países europeus. Na próxima atualização da lista de refugiados do ACNUR o país deve ficar entre os dez maiores destinos de refugiados no mundo. Deve-se, no entanto, apontar um padrão de dois pesos e duas medidas: enquanto Angela Merkel é indicada ao Prêmio Nobel da Paz por receber 440 mil refugiados, o governo da Jordânia já recebeu quase três milhões deles. Se fosse uma cidade, o campo de refugiados de Zaatari, com 80 mil habitantes, seria a segunda maior da Jordânia, atrás apenas da capital Amã, o que traz grandes pressões para os serviços públicos locais.


Refugiados eternos

O maior grupo de refugiados do mundo, segundo o ACNUR é o dos palestinos. A guerra árabe-israelense de 1948 deu origem à população original de refugiados palestinos, composta por cerca de 700.000 pessoas. Seus filhos e netos também são considerados refugiados e a maioria habita no Líbano, na Jordânia e na Síria, além, é claro, dos territórios palestinos (Faixa de Gaza e Cisjordânia). A guerra síria provocou o deslocamento de alguns desses palestinos, o que fez com que eles se tornassem refugiados pela segunda vez.

Num mundo cada vez mais globalizado e conectado, os países ocidentais não podem mais ignorar cenas como as do menino Aylan morto na praia. Urge aos governos ocidentais encarar a questão de maneira frontal e não apenas de maneira periódica e a uma distância segura. Atacar as causas dos conflitos, apoiar o ACNUR e investir na infra-estrutura (local ou não) para receber os refugiados é o mínimo que se espera. Que não fiquemos parados enquanto mais uma geração de refugiados eternos surge. É o mais humano a se fazer.

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